quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Detalhes especiais!

A casa de Regina tem um quê, que me cativa tanto! Na varanda perto dos arbustos, ela sem imaginar, colocou o antigo banco de praça, restaurado e pintado de branco, que durante anos, ficara esquecido num canto ao relento. Ao lado, um tripé de jardim com samambaias verdinhas. Colocou-o de lado, deixando de frente pros morros verdinhos, onde próximo a primavera, os Ipês floridos nos fartam de belezas! E não resisto! Aliás, toda vez que saio pra visitar algum lugar, meus olhos procuram, viciados, aquele detalhe exposto num cantinho especial. Toda casa tem um lugar distinto, para onde todos os olhares se voltam, e este é o meu vício: Procurá-lo. E cá pra nós, existem pessoas dotadas de uma sensibilidade que assusta e inveja! Esta semana mesmo, fui surpreendida com a notícia de que Janaína havia se separado de vez, de Gustavo, um engenheiro bem sucedido, quinze anos de relação, pra enfim, viver na companhia de Julio, um vendedor autônomo por quem se apaixonara desbragadamente. Um caso de amor e adultério que já rolava alguns anos, me roubando várias noites de sono. Surpreendeu, por que, no fundo, a gente sempre torce pra que as coisas tomem o rumo certo! Mas a bem da verdade, o certo e o errado são conceitos, nada mais! Gilda, por exemplo, se casou quatro vezes e nem por isso, tornou-se uma mulher promíscua aos olhos do povo, com exceção de Sampaio, claro! Mas tratando-se de Sampaio, que conheço bem. Um homem com raízes militar, fruto de um lar ditador, não poderia vir com um pensar coerente. Ele me fez compreende, nestes vinte anos de relação, que é impossível adormecer medievo e despertar pós-moderno!... Mas, Janaína foi muito corajosa, e admiro-a por isso. Partiu abrindo mão de qualquer direito. Sem filhos tudo fica mais fácil! Penso que, se tivesse ao menos um, aquele meu conceito de certo e errado, entraria em vigor, mas... Deixemos prá lá. Confesso que fiquei pasma, mas me consolou seu olhar apaixonado. Duas gotas de orvalho retidas refletindo naquele par de olhos ávidos, uma imensidão de sonhos e poesias. Contou-me muito entusiasmada, que aprenderia a viver com a inspiração que a nova realidade lhe traria. E disso não tive dúvidas! No principio, confesso, me assustou ver aquela casa simples e tão precária de móveis, mas aos poucos fui constatando que aquela, apesar de pequenina, comportava além do amor, uma imensidão de afetos e inspiração. Não sei por que, mas é mal do homem viver comparando as coisas, e eu, não fiz por menos. Recordei imediatamente a antiga sala de sua casa, onde havia três ambientes mobiliados com requinte e comparei com esta, tão apertadinha, onde apenas um tapete florido, um quadro de moldura barata, mas de uma beleza em cores e luminosidade que me cativou o apelo de contemplá-lo mais amiúde. Ao canto, clamando por atenção, uma delicada mesa de jacarandá me saudou sorrindo, vaidosa e exibindo o belo arranjo de flores naturais, tão minuciosamente organizadas, que ao menor ruído, pensei, penderiam abaladas. Liberei o suspirei ao entrar no pequeno ninho de amor onde, não era possível comparação. Havia ali, um bom colchão deitado chão protegido por um tapete bege. Ao lado, servindo de cabeceiras livros e alguns objetos de cristais. Detalhe curioso que muito me chamou a atenção, foi ver que do teto, pendiam duas corrente douradas sustentando uma espécie de bambu envernizado onde, eximiamente, pendurara os muitos cabides de roupas, e logo abaixo deste, sobre um pequeno baú, descansavam alguns pares de sapatos impecavelmente lustrados. Ao canto, uma cadeira de vime almofadada de seda carmim, acolhia plenamente vaidosa, o pijama de algodão e a alva camisola... Mas foi ali, bem no cantinho inibido pela luz do sol primaveril, a vista mais sublime, o detalhe singular e especial que meus olhos aptos, captaram e me apaixonaram! Um jarro grande, que quase ultrapassava a janela, todo em porcelana branca, doava gentil, o prazer de ver brincar ao vento, dois imensos gira-sóis!
Julio foi quem preparou o café e por sinal, muito gostoso. Do jeitinho que eu gosto. Forte e pouco açúcar! fiquei em silencio observando-os. Pareciam um par de jovens recém casados, petiscando cada uma das delícias que as núpcias nos doa sem mesquinhês. Vez ou outra, trocavam de olhares sugestivos, beijinhos estalados que por fim, me convenceram de que já era hora de partir. Não seria eu, a impossibilidade daquele desejo tão evidente.
No caminho de volta, vim proseando com minha alma, como sempre faço, e ambas, chegamos a conclusão de que, na miséria ou na fartura, o amor inspira as mesmas belezas que louvam nas alturas e comovem o coração de Deus! E este é o detalhe dos detalhes!


Marisa Rosa Cabral. 4/9/2008

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Oi, Sou a Rosinha compartilhando a vida cheia de graça com você. Do cotidiano onde, nada me escapa. nenhum detalhe se perde através das vidraças de minha janela, e pode acreditar, tudo narrado aqui, foi vivido na íntegra, eu apenas, acrescento a cada conto uma pitada deste bom humor sagaz e imperativo que Deus me deu!(risos)

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Para Marisa Rosa Sou geminiana, sim! Sou geminiana sou, simples e complicada vaidosa e relaxada... uma mulher cheia de amor. Inconstante é-me a minha própria carne e se a timidez me persegue é ela minha indócil estrada que chega a tirar-me o fôlego. Meu choro é cheio como o mar e jorra livre como o vento e não esconde o que eu sinto quando minha face vive e expõe as faces dos meus sentimentos. Sou a chuva que busca a solidão no nostálgico das brumas a viciar-me na poesia que traço quando minha alma, o coração abraça e no peito uma mulher declama. Paulino Vergetti em 2 de Setembro de 2008 http://www.luso-poemas.net/modules/yogurt/index.php?uid=5737