quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Mulher em Crise

Existem verdades que machucam a alma no profundo.
E foi, justo nessa manhã, que eu distraída e sem prevê mudanças, ouvi minha filha se lamentando com o pai a respeito das minhas crises de humor rotineiras. Calei a respiração e permaneci atrás da porta ouvindo o diálogo que fluía despretensioso entre eles. E, não vou negar que ultimamente ando mesmo em crise, mas a doutora me acalmou, dizendo que tudo que sinto são os incômodos da meno pausa, mas confesso que, ouvir esses burburinhos, me deprime ainda mais.
Abri a janela pra arejar o quarto e os pensamentos e em seguida, acendi um cigarro aliviar as tenções e fiquei ali, durante um bom tempo acuada, pensando e buscando um lenitivo para tais dilemas. Uma semana de férias seria bom pra mim e para todos!- pensei. Um tempo rico de paz, exclusivo, somente para mim e  minhas crises!
Não sei explicar, mas quando estou assim, “em crise”, o que é pouco passa a ser demais! Têm dias que fico alegre e em outros, me deprimo. Basta um vento soprar que entristeço e choro saudades que nem entendo. E a rotina dos dias não muda. Sou eu pra tudo o tempo todo! Sei que ando meio desleixada, adiando tudo e qualquer evento, mas também tenho minhas queixas particulares. Nunca falei, mas também me incomoda muitas coisas. A imensa pilha de jornais que atravanca a entrada da área de serviço só faz crescer. A lâmpada da área queimou a meses, e se eu não reclamar vai anos assim... Os copos que se acumulam sobre a pia e que ninguém se atreve... Os tênis, mochilas e tudo mais que deixam largadas sou eu quem recolho...Quando estou fora não encontram nada! Sou eu pra tudo nesse meu lar de leigos inválidos!E Mariana, que não tem noção do quanto é imprestável, é a que mais se queixa de mim! Tolero, pois sei um dia, se Deus quiser, vai estar exatamente aqui, no mesmo lugar, e com posse deste mesmo discurso se perguntando: aonde foi que errei?!
Meu mantra de todas as madrugadas é tentar me convencer de que sou mulher: um ser fadado a padecer calado todo tipo de injustiça, preconceitos e humilhações!
Me arrasto pela casa abatida como se a vida que construí com tanta dedicação e omissão pesasse às costas como a bagagem do mundo inteiro.
Ultimamente tenho me questionado muito neste sentido, e a pergunta é: será que valeu à pena tamanho sacrifício? Sinceramente, não sei. A única certeza que me habita neste momento, é que se eu tivesse coragem, como Shirley Valentine, partiria de férias sem dar conta a ninguém. Fazer como Dorinha, no auge de sua crise que partiu desatinada porta a fora sem deixar bilhete.
Ah, que saudade do colo de minha mãe... Ela sabia e entendia de tudo! E daquela boca santa, que Deus, com certeza, silenciou com um beijo só ouvi os melhores conselhos e votos. E eu, com certeza, nunca tive do que me queixar e mesmo que tivesse, nunca o faria para não perdê-la, ou quem sabe, evitar o constrangimento de vê-la partir feito louca, ou pior, vê-la decepcionada chorando em oculto, como eu agora!

Marisa Rosa Cabral.

कASA दे VILA

Quase meia noite e mais uma encrenca cabeluda acontecia na vila. Por isso que Marajá, o galo velho de Suzana, canta atrasado todas as manhãs. Nem o pobre, consegue descansar em meio a tanta confusão. Como se fossem poucas, as desavenças corriqueiras do dia! - Desabafei tapando os ouvidos com o travesseiro.
Bem ao lado, parede com o quarto, uma confusão mal acabara de cessar. Foi na casa de Jarbas, entre os filhos, Julio e Gustavo, dois adolescentes que só sabem resolver problemas em meio a murros e pontapés.“É a violência que vemos se alastrar pelo mundo, que já entra pela porta da gente sem pedir licença, e ainda faz de vítima nossos mais ricos princípios”. O fato é que, mal nos acomodávamos ao silencio, e já outro escândalo surgia. Agora, entre o casal Jurema e Tadeu. Pra dizer a verdade, já estou acostumada a vê-lo regressar torto de bêbado as noites de sextas-feiras, que fico a imaginar, como uma pessoa neste estado deplorável consegue fazer todo o caminho de casa. Todo bêbado sem vergonha, deveria perder o rumo de casa e só voltar quando passado o porre! E Tadeu é daqueles que enverga, mas não cai. O pior, é que ainda tira onda de machão... Levanta o timbre da voz e dita ordem para que Jurema lhe abra a porta, mas a coitada, ultimamente, deu pra fazer cena, teatrinho com seu drama pessoal, que ao meu ver, já virou comédia... A verdade, é que ninguém sabe atestar se usa do artifício pra convencer a vizinhança, que há muito anda descrente de suas promessas de querer mudar de vida, ou se é sério mesmo! Penso cá comigo, que no fundo, sente gosto de viver neste desgosto de vida. Tem gente que curte miséria, doenças, solidão, dor de dente... E Jurema se faz de vítima por gosto! Agora deu pra se dizer ofendida e cansada dos maus tratos... Até grita pra todos ouvirem, que anda decidida em largá-lo, mas só convence quem não a conhece... No fim, acaba cedendo e a vida prossegue assim, de sexta à sexta!”
Sampaio, que já havia desistido de acompanhar o jogo pelo radio despertador, encolheu-se do meu lado, e daí então, só fazia amaldiçoar a vida e os vizinhos. Falava entre os dentes, deixando escapulir seu veneno fatal, de que a culpada pelos inconvenientes que passava, era totalmente da pobre e inocente Iracema, finada mãe de Tadeu, por ter parido um filho alcoólatra inconseqüente! “Isto sim, é coisa que me tira do sério, ouvir alguém ofender uma mãe. Não me importa os argumentos. Não tolero”. Evitei uma atitude drástica, somente pra não dar margem a mais uma confusão na noite que já estava pra lá de esgotada.
“Homem não tem senso crítico e fica pior se impedido de ouvir seu futebol! Ô vício maldito! Outro dia mesmo, me aborreci feio porque o ouvi chamar João Pedro de miserável. Isto, só por que o filho não tinha em mãos, o talão de cheques pra lhe emprestar uma quantia”.
Respirei fundo e ignorei-o. Pra aliviar a tensão que já me tomava, peguei um livro qualquer na cabeceira e comecei a ler. Os pensamentos vinham em ondas e me roubavam a concentração, então, recomeçava de novo, e de novo... Até que os pensamentos venceram e eu me deixei levar por eles. Lembrei da cena, e comparando com a realidade da noite, só consegui constatar, que o mundo realmente está findando. “Vovó Alzira não cansava de repetir que, boca de mãe era abençoada por Deus, por isso presto bons conselhos e profecias pros meus meninos”.
A voz fraca de Tadeu me trouxe de volta. O pobre dizia que não estava se sentindo bem. Seu mal estar invadiu as frestas e ecoou nos meus ouvidos, que deu até pra ouvir nitidamente as convulsões. Sampaio imediatamente estancou a respiração. O estômago fraco que tem começou a embrulhar, a boca a encher de água, que não teve jeito. Correu pro banheiro, mão na boca, tentando conter a ânsia também. “Por que eu não morro agora, meu Deus?” Desabafei jogando os lençóis pro lado pensando que aquela noite ainda prometia muito! Sem pressa e sem vontade, passei um café e levei pra disfarçar seu mal-estar, mas a lembrança do fato, fazia seus olhos lacrimejarem ainda mais. Deixei-o ali, sozinho, mirando o sanitário, e parti arrastando as sandálias pelo corredor estreito, findando no meu oratório iluminado e florido, onde, com o olhar desolado e, sem mais nenhuma chance de esperança, clamei baixinho: Valei-me meu Santo Expedito!
“Nestas horas eu tenho que concordar com meu João Pedro quando diz que morador de vila é profissão. E é verdade. Se não tiver vocação e paciência, padece com a loucura”.
Em vila compartilha-se tudo! Sofrimento, prazer, tristeza, alegria, confusão, gozo...
Gozo sim, e eu que o diga! Quando o Braga, o novo amante que Sofia conheceu na última excursão pra Valença chega, é um Deus nos acuda! E amanhã é dia! Como todo dia trinta, ele chega trazendo nas mãos um lindo buquê de flores, uma garrafa de vinho tinto e no rosto um sorriso que me festeja a alma assistir.
“Percebo que somente sua presença, faz a noite ser mais quente e silenciosa... Abundam gemidos, gritos e sussurros... E tudo é compartilhado. Vale à pena perder o sono ouvindo-o. Não nego o prazer que me da e até tiro muito proveito da situação.”
Esmeralda a azeda da vila, disse noutra manhã, ao açougue, que se um dia acontecer alguma tragédia no invejável ninho de amor de Sofia e Braga, vamos ter de esperar feder pra tomar providências. Mas esta é despeitada, solitária e insolente, e como bem dizem por ai: a felicidade amorosa alheia só incomoda aos incompetentes!
As noites dos amantes, são mágicas e delirantes! Só tenho dó das crianças de Sofia, pois quando seu galã desponta no portão, fica indócil, que tranca os meninos no quarto dos fundos e toma de CD de Xuxa no último volume. Aí o inferno é geral! De um lado os sussurros de Sofia implorando amor: “ah... meu rei, me mate agora!”. Do outro, a Xuxa gritando estridente... Ta na hora, ta na hora”... Que ninguém entende mais nada. A maior verdade em vila, é que todos, sem exceção, sabem de todos e compartilham de tudo, inclusive, comenta-se de ponta à ponta, da casa um a trigésima, que o novo casal é adepto de uma interessante prática amorosa: fantasia erótica!
“Santo Expedito que me perdoe, mas é parede com parede... Impossível ignorar. Eu até que tento, mas tudo que presta e o que não presta, viola o reboco fino sem permissão, e me pega desprevenida. Além do mais, a tal novidade, de que nunca ouvir falar, tem tornado minhas noites mais excitantes! Ainda recordo a primeira vez em que encenaram o Vampiro Tarado. Braga imitou com tamanha perfeição as gargalhadas do Drácula, que até me assustei, e aquela voz grossa e sensual, sussurrando indecências pra amante, me fizeram corar e inspirar coisas que nunca imaginei. Confesso que após a vinda destes pra vila, Sampaio anda até, se engraçando mais comigo”.
A partir de então, a noite do dia trinta, passou a ser aguardada com muita expectativa, e tem gente que só prega os olhos amanhecendo o dia, mas é manhã de sorrisos e gentilezas. Mérito todo de Braga. “O danado tem talento pro negócio que dá gosto ouvir”. A última foi a do Chapeuzinho Vermelho. Da forma que ocorreu chego a pensar, que já perceberam o silencio especulador que envolve a vila, o que não é normal, pois resolveram encenar a trama do clássico infantil, no pequeno quintal, usando de cenário a velha goiabeira. Deu pra ouvir melhor aos diálogos que improvisavam na hora...
Lembro inclusive, que ao término da fantasia, Sampaio comentou ofegante e baixinho, enquanto o casal de amantes descansavam os corpos nus ao frescor do luar, que não achara tão excitante quanto a do Vampiro, principalmente na parte em que o malvado Lobo Mal comeu a Vovó. Disse que Sofia não soube interpretar seu papel. Não gritou de pavor, não exibiu medo, não sofreu... Por fim, não convenceu. Quem o visse falar daquele jeito, diria que se tratava de um perito crítico de cinema, que eu mesma não me contive e gargalhei dizendo que se fossemos nós, a trama não passaria do café com bolo... Novamente a voz de Tadeu, desta vez mais fraca e baixa pedindo perdão e jurando nunca mais tocar num copo de bebida, me trouxe a realidade. Houve uma breve pausa, até que Jurema cedeu aos seus apelos. Desde então, o silencio voltou a reinar na vila, e o pobre Marajá descansar em paz.
Sampaio retornou pra cama com o semblante abatido e não custou, adormeceu. Eu não, ainda fiquei recostada a porta dos fundos, fumando um cigarro, mirando a lua, rememorando os momentos bons que já vivi ali, naquela vila tumultuada... Pensei curiosa de como seria a tal da nova fantasia que ouvi o Braga combinando com Sofia na última vez: “Lampião o garanhão e Maria a bonitinha”.O tema até que é bastante sugestivo, mas seja o que for, amanhã é dia trinta, e a noite, promete!

domingo, 14 de outubro de 2007

Casos de "rosinha": A PONTE

Se vc gostou e quiser comentar a respeito, sinta-se à vontade.
beijok da Rosinha.
Casos de "rosinha": A PONTE

A PONTE

A parede lateral da cozinha havia sido demolida para ceder espaço ao novo cômodo. Meu espaço privado. Pequeno, sei, mas só meu. Foi presente de minha querida tia Dulce. Tão logo tomou ciência do convite que recebi para participar do lançamento de uma coletânea de poesia, no sul, ficou emocionada, e providenciou as coisas por aqui... No fundo mesmo, minha felicidade era saber que a velha máquina de escrever deixaria enfim, de disputar espaço com o liquidificador à arca de jacarandá da copa. Resistimos quase vinte anos a estas precárias condições... Falei baixinho pra mim mesmo relembrando o tempo que por ali me inspirei...
O fato é que, desde então, comecei a divagar e vislumbrar suspirosa o prazer que estava tendo, pois o merecia! O entra e sai do pedreiro com carrinho abarrotado de entulho, transformava a rotina pacata de meus dias até então. Aliás, as mudanças foram muitas. Mérito do senhor Ataíde, o famoso: “língua nervosa”, que espalhou a notícia, e assim, findou meu anonimato literário.
As visitas foram muitas, desde do pai de santo, muito simpático se diga, que Gilda trouxe pra me benzer contra a famosa inveja que Gilda entende e acredita, até a unção especial que Padre Miguel Luiz, me dedicou na última missa... Sem falar nas recompensas vindouras. Pra começar, recebi uma cortesia do Coifair Samaris, que adorei, para viver o meu "dia de princesa." Imagina, um dia todo dedicado a mim, e com direito até, a tal depilação especial com cera importada, que Leila tanto comenta...Uma semana de jornais grátis, presente muito bem vindo do senhor Juvenal... E consta mencionar, que até, o atendimento no mercadinho da esquina sofreu mudanças. O dono fez questão de me atender pessoalmente. E era tanta gentileza que não cabia ao bairro... Até, ouvi contar, que Associação dos Moradores do Bairro, corria lista pelas ruas a fim de angariar fundos para a confecção de faixas coloridas, que ficariam espalhadas pelas esquinas, me congratulando o feito. Demais!!! A esta altura, estava me sentindo a própria Danielle Steel, autora de um best-seller que amei o prazer: Amor Sem Igual...
E, foi nessa virada da maré, que, como bem diz Lucrecia: quem não sabe remar naufraga, que tive a honra de conhecer o jovem Marcelino. Um competente pedreiro que indico de olhos vendados e empenho palavra se preciso for. Basta dizer, que logo de cara, nos tornamos bons amigos... Sampaio tem razão quando diz que sou muito conversadora, mas está na alma esse dom, e dom é coisa que não se pode evitar... Era recém chegado do nordeste, onde, deixou esposa e quatro meninos pequenos empenhorados com o senhorio da humilde casa alugada no interior do interior do interior... E sorria contando sua tragédia pessoal usando a mão como escudo a boca, a fim de esconder o vexame de não possuir a maioria dos dentes. Acostumei-me a vê-lo às manhãs, e sempre muito bem humorado... Enquanto erguia o espaço entre a cozinha e a área, doava idéias ótimas ao pequeno projeto, idéias que aproveitei a maioria.
A obra logo tomou rumo e sentido. A casa, por ser antiga, de vila, fazia com que uma nuvem de poeira espessa invadisse as frestas das janelas vizinhas causando vermelhidão nos olhos das crianças, irritação nos brônquios, coriza. A tarde começava a findar, mas o maldito barulho surdo e compassado da marreta as paredes firmes, insistia, e fazia tremer o meu mundo... Mas comparando o prazer que sentia, o mundo, literalmente falando, poderia vir abaixo que não me importaria. Marcelino não cedia trégua. Levava as horas cantando modinhas do sertão que me encantava os refrões. Devido à falta de estudos, fato muito comum em toda parte do país, cometia equívocos hilários, mas ninguém é perfeito de todo. Quem pensa que sabe tudo, ou sabe mais, comete maior equívoco! Aprendi que cada qual sabe dar conta de um particular da vida... Eu jamais ergueria uma parede tão perfeita. Certa vez, em prosa com Sampaio, após o café, o jovem desapercebido, confundiu concepção com Conceição. Sampaio estava de boa maré, e fingiu ignorar o fato. Até consentiu, que Marcelino, muito abatido se diga, narrasse a triste história da erisipela crônica nas pernas de sua tia, a Conceição.
Com João Pedro foi melhor ainda. Meu bancário talentoso, aconselhava-o a começar a pagar uma autonomia. Mal começou a falar, Marcelino interrompeu-o, com certa arrogancia estampada, agradeceu, mas dispensou o bom conselho contando que o que ganhava, mal dava pra comer. E no mais, falou. “Carteira de autonomista pra quê, se nem sei dirigir”. Meu João pasmou e antes que tentasse explicar, me adiantei lembrando-o da hora... Mas, foi o episódio da ponte que me fez gargalhar de chorar sem mágoa ou dor. Imagine que o simpático pedreiro, às vésperas de concluir a obra, me chamou pra um particular. Percebi-o muito tímido, receoso, mas o coitado só buscava saber se eu conhecia outro pedreiro pra indicá-lo como ajudante. Aceito qualquer coisa no momento. Não posso parar de trabalhar dona Rosinha. - Falou preocupado. Caso contrário minhas crianças morrem de fome e no relento. Vendo aqueles olhos lacrimosos, tentando disfarçar o medo futuro, lamentei toda miséria do mundo, com a alma pesarosa. Deus, somente Ele sabia como me senti naquele momento, mas infelizmente, como expliquei, o único pedreiro que conheci e que por anos me serviu, o senhor Otávio, já estava aposentado. Foi logo após, fazer as duas pontes de safena! Falei abatida e suspirosa. Mas, Marcelino de fato era muito mal entendido das coisas. Imagine, que encheu o peito de ar e respondeu meio que despeitado, que se um dia na vida, lhe couber a mesma sorte, com certeza se aposentaria também. Meu coração disparou ouvindo-o explicar: Imagine eu, pegando a empreitada de duas pontes em Safena... Com uma só, eu lavava a égua, aliás, eu lavava era o gado todo, dona Rosinha. – Concordei gargalhando e num forte abraço dispensei-o.
Relembrando os fatos, confesso que sou apaixonada demais, por esse ser raríssimo, chamado “gente”!


Texto de:
Marisa Rosa Cabra;

O PÃO

Hoje faz dois anos, três meses e catorze dias que pratico minha caminhada matinal e por mero prazer. Claro que no início, sobre grande pressão, mas a gente se acostuma. Foi ordem do doutor médica pra diminuir meu peso, que, aliás, naquela época tudo em mim andava em alta... A pressão arterial, o colesterol, a glicose, a gula sem mencionar a preguiça. Em baixa somente a auto-estima. Todo início é difícil! Quem disse isto, na certa, andava exagerando em alguma coisa.
Não perco da lembrança aquele primeiro dia. Um vexame! Foi o Janeiro mais quente da minha vida. 76 quilos e oitocentos gramas, socados neste corpinho de apenas, 1,63cm. O excesso já há muito, ia se acumulando... Nas nádegas, seios... Pra se ter uma noção mais clara, era impossível identificar aonde começava e terminava minha barriga. Minhas curvas resumiam-se do queixo pro pescoço, do pescoço pros seios e dos seios pras canelas... E apesar das inumera evidencias, ainda tentei desistir na primeira tentativa. Mas Sampaio não permitiu. Começou um maldito discurso moralista. Comentou até, as estatística, repetindo as mesmas palavras do médico, que a maioria dos infartos fulminantes se dava por conta da obesidade. Pobre Mariana! A menina tomava seu café tranqüilamente, ouvindo-o se apavorou...
Saí de casa às seis horas em ponto, cronometrada pelo relógio paraguaio que Sampaio comprou e preservou na embalagem durante oito meses... Encarei os 42 graus de calor que fazia, e ainda vestida num terrível casaco de moletom estampado de girassóis amarelos vibrantes, presente que Sampaio me trouxe-o de véspera, contando que era a última moda na zona sul. Deus! Um jardim suspenso da Babilônia... Sim... E suspenso por um par de tênis, azul com laranja 38, mas no pé parecia 44 e o diabo de uma luz no solado que ascendia a cada passada! Estava me sentindo a fachada luminosa de um desses “Bingos” clandestinos da cidade... Pra se ter uma idéia, logo de cara, o seu Nestor, da casa 2, me cumprimentou sorridente... O velho mal enxergava. Vivia a dar cabeçadas pelas paredes... O pior se deu com o Juca da farmácia. Ô rapaz inconveniente. Eu, que já tentava me ocultar por detrás das árvores, corei com seus gritos do balcão indagando se estava indo pra algum tipo de passeata? – Passeata uma ova! Pensei tomada de ódio. - Seu Juvenal, o jornaleiro da banca da esquina, que não se detém por nada, se intrometeu no assunto, e o pior, chamou a atenção de todos que passavam, afirmando que era um protesto solitário: “Esqueçam a Amazônia, que não tem mais solução e salvem as gordinhas!” De longe ainda, ecoavam as gargalhadas. É nessas horas que eu odeio o povo do subúrbio. Sabem dar conta da vida de todos! Por fim, cheguei à Praça do Patriarca, local onde acontece o encontro dos ATI “Atletas da Terceira Idade, o que não é o meu caso, mas Gilda falou que era só pra começar. Eu estava mais perdida que cego em tiroteio naquela manhã. Não sabia pra que lado ir, e em completo jejum, pasmei, assistindo toda aquela gente passar ligeiro por mim... E na maioria, idosos! Não deu outra, fiquei zonza que dona Margarida teve de me acudir, e a mesma, aos setenta anos de idade, passou umas quatro vezes por mim enquanto mal concluía a primeira volta... Era o peso, o desgosto, o desconforto das roupas e tudo aliado a fome, que só lembrava os pães fofinhos, a variedade de massas cheirosas... cada modelo mais atraente que o outro e ainda, besuntados de cremes e açucares... Mas estavam proibidos...
_Quem diria... Eu, traída pelo pão de cada dia! Deveria processar a classe dos padeiros.
A marcha seguiu adiante, cumprindo a rota, e eu atrás, resistindo, até que de repente, surgiu as vistas a tradicional ladeira da igreja de São Roque que pensei: Agora é que me dano de vez! Só não desisti, porque lembrei da aposta que Sampaio bancou na esquina... Três caixas de cervejas contra uma, de que eu, não resistiria ao primeiro dia. E foi exatamente naquele momento, ensopada de suor, bufando de cansaço e arrependida de ter consumido tantos pães, que as coisas fizeram sentido. A luz se ascendeu, enfim! Aquela roupa chamativa que subornava meu animo, só poderia ter sido intencional... O pique da raiva foi tamanho, que ao invés de me abater, me motivou. Criei gosto. Meus passos a partir de então, tornaram-se firmes e determinados que as bochechas estremeciam ao impacto... Dona Margarida ficou pra trás a ver poeira, e a medida que eu lembrava Sampaio com seu sorriso falso e olhar dissimulado, meus passos aceleravam. O pior, é que o cretino ainda tirava onda pelo bairro dizendo, que ao contrário de mim, estava em forma. Um iludido! Desde que se aposentou não faz nada. Passou a ser simplesmente, mais um adorno pra minha sala de estar... Marido aposentado, é que nem duendes de jardins de gente rica: sedentários, ultrapassados e barrigudos, e não fugia ao modelo não. Sua barriga há muito se sentia absoluta, flácida e uniformemente acomodada sobre o cós da bermuda. Uma empada de botequim! Do jeito que ia, não tardava perder das vistas o pequenino e quase aposentado orgulho... Mas descarado que era, dizia ser por conta da cerveja... “Se eu parar ela some!”... E eu que pensava que esta saía toda pela urina. Sussurrei quase sem fôlego.
Mesmo com aquela roupa, parecendo altar de igreja em dia de festa, jurei completar as três quadras, duas ladeiras e gastando o tempo mínimo de quarenta minutos. Moleza! Falei enxugando o suor... Era exatamente o mesmo tempo que eu gastava pra buscar o pão na outra quadra, claro que, considerando a fila no caixa, a espera no balcão, a falta de troco, as malditas cem gramas de mortadelas da promoção dos dez pãezinhos que só fazem aumentar a freguesia, mas que findam antes do prazo cedendo vez às brigas... Estava morta, mas cumpri a penitencia. O suor escorria, as carnes das pernas latejavam trêmulas, os pés ardiam, mas os malditos girassóis prosseguiam vibrantes e inabaláveis! Atravessei os portões da vila com meu estômago roncando, vistas turvas, mas a alma de uma verdadeira heroína. Mariana veio me encontrar no caminho gritando: Mãe você conseguiu! Você conseguiu! Sorriu-me exibindo aquele pavoroso aparelho metálico, tomado de massa de pão, mas poupei as criticas afinal, disse que havia me preparado um café especial: chá com adoçante e quatro torradas de água, sem o sal... Juro que, se eu cedesse ao pranto naquele momento, estaria chorando até hoje...
Sampaio não. O salafrário preferiu me aguardar ao portão com os olhos fitos no maldito cronômetro e o coração por certo, acelerado pelo desapontamento. _ Três minutos adiantados! Falou irônico, e ainda teve a ousadia de dizer que o primeiro dia não dá pra avaliar, pois normalmente é motivado pela emoção, pressão, vaidade... Ergui a sobranceira esquerda, gesto que evito, mas quando acontece faz todos em casa temer, e olhando-o com extrema indiferença, que fiz questão, respondi: _ Vai se ferrar, Sampaio! A partir de então, suspirei aliviada, leve, que até os girassóis ficaram mais simpáticos... Parti pro banho assoviando a musica do Gonzaguinha: “Desesperar jamais”.
O fato é que, há dois anos mantenho a dieta rígida e a rotina de caminhar todas as manhãs. Confesso que no início, passei o pão que diabo amassou, mas cheguei ao peso ideal. Hoje, de uniforme novo e com tudo em “baixa”, sirvo de exemplo e orgulho para muitos no bairro, inclusive Sampaio, que depois de ouvir muitas criticas a sua barriga, largou mão da resistência e aderiu ao prazer de uma vida mais saudável.

Texto de:
Marisa Rosa Cabral
13/09/2007.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

A verdadeira história do apagão aéreo.



Dindi e Gabi chegaram ontem pra passar o final de semana. Minhas lindas sobrinhas: 6 e 9 anos. Vieram pra assistir a queima dos fogos do São João que acontece aos primeiros minutos do dia 24. Hábito a que primo cultuar, mas não vai além de uma gostosa e saudável tradição que a família mantém desde os tempos de vovó Aristhéa.
Por motivo de “força menor” me recolhi mais cedo ao leito. Dindi sugeriu uma historinha pra matar a saudade, mas estava sem ânimo. Perdi parte do dia driblando um carrinho dentro do Supermercado, cheio e tumultuado, o que me levou todo humor e inspiração. Deus me perdoe, mas as coisas andam caríssimas! E o pior, a cada dia um preço novo. O shampoo de lanolina que Mariana me pediu ficou pro próximo mês, assim como o vinho branco de Sampaio. Mas, pra não desapontá-las, (coisa chata, é ver criança triste) disse que cantaria uma cantiga da época, antes, porém, relembrei as noites de minha infância, em que, soltávamos balõezinhos de papel fino. Todos muito coloridos que subiam como passarinhos noturnos, decoravam todo o céu de luzinhas- “céu de vaga-lumes” comentei. Dindi nesse momento fechou os olhinhos, abraçou seu coelhinho, suspirosa, que até pensei: deve estar imaginando um céu igual. A penumbra do abajur lilás, comecei a cantar baixinho, quase sussurrando...“Chegou a hora da fogueira/ É noite de São João/ O céu fica todo iluminado/ Fica o céu todo estrelado/ Pintadinho de balão...”
Gabi que aos nove anos, vive a idade típica do “por que”, me interrompeu. – Tia Rosinha, por que não fica mais pintadinho de balão como na sua época? Sorri e expliquei muito paciente, que os balões foram crescendo de tamanho, no lugar da bucha simples, começaram a usar botijas de gás, com isso, provocava acidentes graves, queimadas... Dindi abriu os olhinhos e se atreveu no assunto. _ Daí veio o aquecimento global né tia Rosinha? Sorri daquela doce inocência astuta, e concordei. De fato, contribuíam para isso. Prossegui contando, que eles além de crescerem, ficaram mais lindos. Levavam imagens vislumbrantes de personagens encantadores... Neste momento me veio à mente um famoso e muito comentado que trouxe A inesquecível dentuça “Mônica” personagem muito famosa do cartunista Maurício de Souza! Mas, com os constantes e graves acidentes provocados pelos balões gigantes, soltos por homens inconseqüentes, a justiça resolveu proibir terminantemente a prática. -O São João ficou triste? Perguntou Gabi chorosa. Abracei minha pequenina comovida, e respondi que não. Somente o céu não ficava mais colorido e pintadinho de balões, mas que as estrelas fazem o espetáculo por eles. Dindi novamente interferiu. -Daí, veio o famoso apagão aéreo não é, tia Rosinha? Gargalhei folgada e concordei. Sim, foi assim, que tudo começou, e hoje, até avião faz protestos contra a dura decisão da justiça, em proibir os lindos balões que me encantavam.

É Phoda!!!


Tanta modernidade...
Nasci numa década onde a simplicidade fazia-se moda. A música, somente esta, caracterizava um modernismo à parte... Os Beatles e Ronling Stones, em grandes bolachas de vinil, eram tocados na minha vitrola Telesparck em 33 e 78 rotações...
Logo chegou João Gilberto trazendo uma bossa nova, detalhe importante: a garota de Ipanema era virgem e os anos eram dourados. Em seguida, surpreendeu o nosso Tropicalismo e a Banda que inspirou Chico Buarque ainda, prossegue aos trancos e barrancos nos centros comerciais em época de promoções. O cabelo cheio de Gal Costa marcou meu estilo durante anos... Lá onde se ouvia o canto do sabiá...“ Vou voltar/ Sei que ainda/ vou voltar/ para o meu lugar/ Foi lá....” Saudades dos grandes festivais... Dos tempos da brilhantina, meias-finas, cinta-liga, pó de arroz Coty e Helena Rubinstein, mas chorar o passado é ultrapassado já!
Infelizmente o mundo gira e girando levou embora o caracol do meu cabelo, lança perfumes, Os Mutantes, os grandes carnavais... Bons tempos... nunca mais!
Novidades, hoje são muitas!
Tecnologias surgem e atravancam o mercado, que ultimamente me sinto mais perdida que cego em tiroteio em meio aos tantos aparelhos e botões que encontro pela casa. O que antes, era um simples “dois em um” e uma TV de seletor, que nos obrigava a levantar e sentar muitas vezes, (exercício muito bom para coluna) transfigurou-se. Hoje uma tela enorme, finíssima se ergueu cheia de truques, desafiando os leigos e o pior: em “inglês”. Sinto-me literalmente, o pobre coelho procurando à antiga cartola que o mágico há muito, aposentou. O palco de minha sala que deveria permanecer na origem de descanso, passou a ser considerado meu inferno diário, mas sou turrona!
Ironias! Quando, enfim, consegui desvendar os mistérios do meu obsoleto vídeo cassete, chegou-me o tal de DVD. Era a fita exagerada cedendo lugar para um disco pequenino, o que me intriga até hoje. Recordo o dia em que o vi pela primeira vez... Suspirei desolada, desanimada mirando o aparelho prateado “Slim”, pensava que ali estava o objeto que iria me abater, o inimigo inteligant, tal qual, o moinho para Dom Quixote, mas graças ao ímpeto feminino de bisbilhotar tudo que vê, hoje consigo ligar e desligar meu aparelho. O segredo é simples: o botão de “ON” e “OFF” não mudou a característica. E ainda que no mesmo controle remoto, conste de inúmeras configurações, ignore, pois não farão nenhuma diferença se o idioma estiver em “Português”... A imagem ainda, surge no ON e desaparece no OF. Ufa!

Constrangedor foi saber depois de meses que as caixinhas de som, espalhadas pelos cantos, que nunca ousei perguntar a ninguém, faziam parte do arsenal, detalhe que, meu sobrinho sabido de tudo, o Malcon Stuart da Silva desvendou num simples olhar. Claro que ficamos surpresos, ambos, ele por não entender o descaso ao famosíssimo “Home Theater” e eu por não saber sequer do que se tratava. Pasmei! na verdade, pensava que fossem partes de um micro sistem, afinal, hoje em dia, compra-se tudo por partes, que não estranhei a moda chegar a minha casa... O pior momento de minha vida, e que ninguém suspeita o desconforto que senti, se deu no último dia das mães quando, recebi de meu amado filhão, via cedex, um radinho (made in Japão) pequenino, lindo, AM e FM, fone de ouvido... Tudo que queria na vida: minha alienação passiva. Passei aquele maio trabalhando e ouvindo músicas, até que, Mariana desvendou o que nem suspeitava: meu radinho, também, era um “Pen drive”, o que me explicou, e naquele mesmo dia gravamos todos os meus clássicos favoritos e ainda coube espaço para muitos antigos sucessos, num programa da Internet. Fiquei feliz como pinto no lixo!
Malcon Stuart veio semana passada para uma visita. Ô moleque esperto! Dele fiquei sabendo tudo que faltava saber. Meu radinho, o tal Pen Drive, também fotografa e se eu quiser, faz até ligações para o exterior...
Pasmem vocês! Meu radinho de fato, é um lindo celular de última geração.

Ô mundo complicado este, mas eu domino! Ufa!

terça-feira, 26 de junho de 2007

Aprendo vendo a vida...


Gosto de acompanhar metamorfose de mulher quando engravida e rir do equivocado que lhe empina, a barriga, querendo explodir pra frente, de repente, desce!

Gosto de me assustar ao rever a menina de trança quando já dança aos braços do jovem de barda rasteira se fazendo faceira e pasmar os olhos às ruas e me surpreender com a casa antiga reformada, de onde exala cheiro bom! Choro de bebê... Coisa boa de vê!

Vida é que nem torneira aberta jorrando água... “Água demais mata a planta”, já dizia o poeta, mas quando não mata escorre fazendo trilha no chão de lama virando um rio na imaginação que cresce e vai longe, como o fio de lã ao colo de tia Edith, que sem perceber, vai se transformando em manta e a mesma linha mágica, quando sobra, transforma-se em biquinhos coloridos, que quem vê, pensa ser um bando de passarinhos amarradinhos ao pano da cozinha que enfeita a pia, dia à dia!

Aprendi, com sorte, que só o tempo desbota cores fortes...
Que o que muito se ergue, enverga e tomba...
De onde sai um chamego, escapa um gemido.
Onde habita sorriso, chora uma queixa.
Onde transborda a amor também, escasseia.
Onde cresce um pedido, mora uma prece...
E que a jovem quando emagrece sem dor, padece de amor.

Aprendi que o céu é o mesmo, as luas são muitas...
E que, ao leito que me deito às vezes quente, às vezes frio, a paixão que me jurou ser constante ontem, hoje, faz tempo de estio.
Mas o único segredo desvendado, a mim, foi saber que a esperança
Nunca morre! Apenas desfalece, dorme...


Marisa Rosa.



sábado, 16 de junho de 2007

Gilda atravessou o quintal em silencio que me assustou a cozinha. Trouxe além do empadão de frango que tanto gosto, uma cara desolada que não perguntei. Aliás, também não ando bem de humor. Há dias que venho lembrando Sampaio de não deixar vencer minha assinatura no jornal, pra não perder a promoção que custei tanto a adquirir, o que não adiantou. Manteve o estranho olhar cisudo, quando sentou-se a mesa. Servi o café e como bem entendo de gente assim, me aliei ao silencio. Perdeu-se olhando pro nada, suspirando vez o outra, enquanto que eu apenas, lamentava em segredo não saber das previsões do meu horóscopo. Não acredito, mas gosto de ler, por que às vezes bate certinho com a realidade, e hoje, julgando por pelas primeiras horas, bem que eu gostaria de confrontar.De repente, ergueu-se da cadeira inventando preguiça, arrastou as sandálias até chegar a janela e fingiu que olhava o movimento. Aquele silencio dissimulado, que muito bem conhecia, a perseguia como filho novo agarrado a barra de saia de mãe, mas deixei passar assim. Findei a louça, e quando já pensava em aprontar o almoço, ousou finalmente. Claro que rodeou palavras, até desembuchar o drama. Narrou muito tímida o que ouviu das faladeiras de ruas sobre a visita inesperada de um primo de Salete. Deduzi que seria o tal, que conheceu a dez anos atrás, e nunca conseguiu esquecer, aliás, todo caso que Gilda teve no passado, suscita um ar de "fatalitê", como diz Jean o cabeleiro da praça. Ela acendeu um cigarro e no primeiro trago, destatou a choramingar amaldiçoando a vida, o destino e tudo mais. -Deus, agora esta! - pensei comigo - Se pelo menos eu tivesse agora as minhas cruzadas diárias, agiria tranquilamente como faço com Sampaio, fingindo atenção, mas não, tive de olhar nos olhos e ainda, sentir pena quando revelou que no fundo se sentia insegura com a situação._ Faz tantos anos... Já estou mais velha, e sei muito bem que homens maduros gostam de meninas mais jovens. Gargalhei de sua irônica fragilidade digo: fragilitê naquelê momentê. Não era a minha amiga quem falava. A mulher mais dissimulada e atrevida que conheci nesta vida. A própria mãe dizia que, verão sem sol era Gilda sem homem, mas não falei dessas recordações pra não magoá-la, mas atentei para o fato de que se tratando de um homem do interior, não era pra tanto medo. Abraçou-me carente e chorosa que tornou a surpreender e, disso não gosto. Coisa que não aprendi, foi lidar com a fragilidade alheia e no mais, pensei confortando-a, querenta e dois anos, é idade suficiente pra se saber das inconstancias que a vida promove. _ mas tu és ainda muito fogosa, e quer saber, nem aparenta tanto. falei deixando-a mais tranquila. Tão satisfeita ficou, que até chamegou um olhar vadio dizendo que desde que soube de sua vinda, deu pra tecer sonhos tolos, infantis... lembrá-lo a voz, o cheiro. – Ora, isso é muito normal na tua idade, já passei por isto, que nem lembro mais! -tornei eu. Arrastou as sandálias de novo e pousou a janela como coruja assustada, contando que Salete não poupou cena ao contar que o tal primo, agora estava bem de vida, dono de sua própria oficina mecânica. A melhor do lugar! – Interior do interior, imaginei desdenhosa, mas argumentei com um sorriso que, se o tal, entende de bem de recauchutagem e motor, não teria problemas. Gargalhamos.A tarde veio mais mansa; trabalhei em silencio sozinha nas minhas costuras achando admirando a paz que fica, quando os filhos partem pra construir vida igual a nossa. também fiquei assim no início do casamento, inventando uma nova rotina pra seguir. Sampaio saiu que nem vi. Anda assim estes dias, desdenhoso, cabisbaixo... Só porque reclamei da assinatura do jornal. Não medi a altura das palavras. Fiz como ele, qundo insiste em me chamar de caduca, e há três dias que dorme na sala. Pior pra ele!No início tudo é poesia. A lua não brilhava mais que meu sorriso. A primavera existia por invejar meu perfume... Dizem que não, mas o amor envelhece! E o nosso já vagueia débil pelos cômodos. Amor meu, perdeu a visão, pois Samapaio passa por mim que nem o percebo...fala que nem ouço e se sorrir, pergunto de cara amarada: o que foi? Saiu cedo que até rejeitou o café. tentei persuadi-lo, mas como sempre, pra justificar seus “equívocos”, busca histórias, cria enredos fantásticos... Imagina que teve a capacidade de relembrar as primícias das bodas, quando eu, insana pobrezinha, contava sorrindo que gostava de cheirar suas camisas antes de lavá-las... _Tolo é você! -gritei da cozinha. - Traz da morte coisas que não ressucitam! o amor! Findei a questão do jornal chamando-o de mesquinho. Sei que fui dura demais, mas retroceder é errar de novo, e no mais, teimosia é coisa de mulher.Naquela mesma noite, ouvi das bocas que sabem tudo, que Gilda havia saído pra jantar com o primo de Salete. -Tomara que este lhe dome! falei sozinha, e aconcheguei-me solitária á rede, com as mesmas dores nas pernas que não passam. Por graças Sampaio chegou. Menos uma preocupação na cabeça. Trouxe o jornal do dia, um embrulho de presente que me entregou junto a um sorriso apático. Era um óleo de ervas cheiroso, que contou curar dores no corpo. _ Serve pra curar memória de marido esquecido também? -perguntei séria, ao que me sorriu tímido e conivente pediu desculpas. desde então, permiti que ficasse ali, ao meu lado. _Dê-me cá as tuas pernas que eu quero ver se o óleo é bom mesmo! falou e enquanto deslizava a mão quente entre minhas coxas, esqueci as dores, o mau humor e até puxei sua atenção, quando disse que a gente é quem morre um pouco a cada dia, mas o bendito amor nunca finda, nunca acaba e nem se esgota.
_ Tu é que tá caducando, mulher!
_ Ora... Antes que ousasse estragar aquele momento de carícias boas que já premeditava onde chegaríamos, ele me silenciou com um beijo caliente que ardeu tudo em mim.
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quarta-feira, 13 de junho de 2007

Ester vai andar de avião.




Ester vai viajar e por isso estou feliz. Há anos que diz que vai, mas sempre um problema impede. Da última vez até se programou direitinho. Depositava sagradamente, mês por mês um pedacinho do salário, horas extras, serões... Numa poupança programada, quando a filha solteira resolveu dar desgosto. Apareceu de barriga e sei que novidades desta, não há mãe que não se abata. Mas agora não. Tudo fluía e contribuía satisfatoriamente. Já é de anos que a assisto sofrer com a distancia da família. Notícias somente por cartas que custam e quando chaga, alegre ou triste, já é passado. Mas desta vez tudo deu certo! Fluiu que nem rio que parte embora. O neto inesperado já engatinhava pelo chão lustrando o assoalho vermelho com uma frauda encardida atando a chupeta, pra não perder. Coisa ruim é criança perder este vício. Mariana custou anos, e findou dentuça que nem coelho. Hoje reclama de ter que usar aparelho. Sinto um ódio quando Sampaio chama a menina de para-raio ambulante, no fundo também morro de pavor de vê-la sair em dias de chuvas, sei lá se esses metais atraem mesmo relâmpago. A gente ouve casos e mais casos por aí. Vou ver se convença Ester a tirar o vício do neto antes que cresça muito. Não hoje, pois a casa está um alvoroço só. As malas foram feitas e desfeitas inúmeras vezes. Ninguém chegava a um consenso. Impaciente com tanta indecisão decidiu conferir a lista que dona Margot, tão gentilmente nos cedeu naquela manhã. Aliás, Margot é a vizinha que todo mundo deveria ter. Elabora lista pra tudo. Viagens, passeios curtos, longos, ninguém melhor que ela pra fazer lista de gestante e bebê. A danada gosta do engenho que leva gosto. Tem até uma lista de presentes para todos os sexos e idades. Quando solicitada em caso mais específico, como no de Ester que vai para Portugal, leva semana se dedicando em estudar do país o clima, as estações, a cultura e muito exibida, até manda de quebra uma de roteiros e visitas. Tive o prazer de um dia conhecer o interior de sua casa, na ultima enchente que quase inundou a rua. Fiquei impressionada de ver que a porta da geladeira dela, mais parecia mural de oficina mecânica. Infestada de bilhetinhos curtos e compridos. Mas estava tudo certo. Não esqueceu nem das cartelas do específico homeopático “46” que serve para aliviar a prisão de ventre já Ester sofre muito disso. Prisão de ventre e humildade exagerada. Todo mundo que se aproxima feliz com novidade, ao invés de tirar proveito que vai a Europa, não, só fala que o prazer mesmo, vai ser andar de avião pela primeira vez. Ah se fosse Gilda. A esta altura sua vaidade já cobriria o bairro de um lado à outra da estação, exatamente como fez Salete na primeira viagem ao Paraguai. Recordo precisamente, a manhã em que desceu a rua rumo ao salão do bairro, e retornou horas depois, esnobando ao vento o novo colorido dos cabelos, sem contar a lente de contato verde e a prótese nova que tirou no cartão do filho, pra garantir um sorriso a altura. Gilda disse entre os dentes que Salete estava ridícula. Parecia uma perua, mas era pura inveja, eu sei, conhecia ambas, como afirmo que Salete abusou da sorte. Desdenhou tanto a pobre Ester, que esta chegou a achar que a vinda inesperada do neto, foi praga rogada, pois tudo se deu no mesmo ano. Mas uma excursão pro Paraguai não se compara com a viagem de Ester. Sampaio pesquisou e disse que são pra lá de dez horas de avião. E pelo que recordo Salete retornou na mesma semana com a mala abarrotada de muambas. E já no mesmo dia seguia convite a todas as vizinhas para ir ver as novidades. Gilda não foi. Disse que se dependesse dela, o protético levaria a prótese na marra, por falta de pagamento. Eram tantos brinquedos eletrônicos, perfumes, lenços de seda estampados, cada um mais belo que outro. Comprei até um relógio bonito pro meu João Pedro estrear no novo emprego.
Tantas coisas que agora nem é mais novidade. Pelo que sei, qualquer um pode ir ao Paraguai comprar. Nininha mesmo, a manicura do salão, já foi três vezes!
Ester enfim pregou os benditos cadeados e olhando pra gente toda chorosa já, declarou emocionada - Amigas, nem acredito que vou andar de avião! Gilda se engasgou com o café. me disse ao pé do ouvido - Oh, meu Deus! Como pode ser isso, minha amiga rosinha? Sorri disfarçando seu desgosto. - Europa era tudo o que eu queria na vida!
Lembrei que meu João Pedro viria pra almoçar e tratei de me despedir, mas que tentação absurda me tomou, disfarçadamente roubei a chupeta do menino sem que ninguém visse e sai. No caminho de volta, braços dados com Gilda, retruquei ironizando seu despeito incontrolável: - Deus não dá asas à cobra minha querida, e a bem da verdade, doa a quem doer... Ester vai andar de avião.

Deus Apolo




Que boa surpresa ver primo Paulo amanhecer em casa naquele sábado ensolarado. Fiquei deveras contente, pois a muito que andava carente de amigos e boas prosas. Estranhei que veio só, sem Débora e os meninos que tanto alegram a casa com seus falatórios.
Percebi que se exibia o oposto do que sempre fora. Ao invés de falador, reservava-se calado e muito apreensivo de alma, que a princípio me assustou. A mesa do café, somente eu usufruí, e olha que tinha o famoso bolo de milho que aprendi de tia Dirce.
Sampaio como sempre perambulando pelo mundo. Este não abre mão do passeio diário as praças do bairro, inda mais agora que empenhou todo salário num “canário da serra” que mais parece ser da “serra calada”, pois o bichinho nunca ousou um pio! Pra não dar o braço a torcer, diz que não canta por que fica intimidado com os “tic-tac” diários de minha máquina de escrever. Se for esse o motivo, vai morrer mudo. Se em dois meses não se ambientou a rotina, não será preciso um ano como disse o amigo que o vendeu, mas no fundo rezo pra que desembuche logo. Imagine a frustração se o bicho não for dado ao canto. Seu gosto foi sempre ter um desses cantando as manhãs em nossa varanda, e depois, anda tão calmo que se soubesse já teria lhe comprado dúzias...
Mas primo Paulo parecia não se empolgar com as novidades que lhe contava, nem manifestou satisfação quando contei que meu João Pedro havia conseguido a promoção no Banco e ainda ironizei. -Um gerente na família era tudo que precisávamos! Ele limitou-se apenas, a um apático, “É”. Foi então, que percebi que carecia de ajuda, e não de conversas bobas. de boa alma, convidei-o para conhecer meu novo escritório construído a pouco, nos fundos da casa. Graças ao canário! Pensei comigo... Meu reservadinho era simples que nem eu. Sem ar condicionado, carpete cinza, frigobar e cortinas de cetim, apenas três estantes de madeira que eu mesma lixei e envernizei. Pra da um toque mais fino, coloquei a antiga escrivaninha de papai, que tanto Sampaio me cobiçou à alma pra vender pro antiquário do centro. Instigou-me dizendo que renderia boa quantia, e mesmo as carencias assistidas, resisti. Inda mais que na época, lembro bem, andava às volta, envolvido em montar um time de futebol com os vadios do bairro. Pensei que no mínimo o dinheiro da venda seria usado para quitar a conta dos uniformes que mandou fazer na Lapa. Tem nome sujo na praça até hoje. Parei de repente pra recolher do chão as pétalas secas das rosa brancas ao chão, pois bentinha diz que é bom pra fazer chá pra limpar barriga de mulher, e perguntei pro primo o que se passva. -Débora está tendo um caso, rosinha. Falou tão de repente, que custei minutos pra assimilar. Vivi o silencio preciso, por que não me chegavam palavras certas pra começar um diálogo de nível tão melindroso. Abri a porta do escritório e oferecendo um lugar a ele me prostrei abalada pensando naquela santa mulher, atracada aos beijos com outro homem as praças. Era esforço demais. Impossível assimilar a questão, mas mesmo assim, superei o impacto. Com certeza estava equivocado. Aquela santa que conheço bem, não possuiu vestígios da alma volúvel que toda mulher que trai exibe. Sempre se portou com dignidade invejável. Guardo a melhor impressão desta que tenta difamar. -As aparências enganam! Respondeu desolado, mas retruquei imediatamente de que, se tratando de Débora era, inconcebível julgar somente as aparências. Debruçado a janela e, disfarçando o olhar lacrimoso prosseguiu narrando o trágico drama pessoal. Estava muito envergonhado, que, aliás não entendo bem como, e nem por que, quando os papeis se invertem, exibem logo a santa oculta hipocrisia no olhar e palavras que surpreende até santo no céu. E ali estava meu digníssimo primo, que na vida cabia muito enredo pra novela, encenando eximiamente o papel de vítima, dizendo que a semanas, a esposa vinha se comportando mais animada que o normal.
-Vaidosa, perfumada, deu até pra usar batom vermelho pra ir às feiras no bairro, coisa que nunca aconteceu. Achei normal e até disse, que era muito pouco argumento pra um veridicto tão grave. Ele atenuou minhas dúvidas declarando finalmente, de que se tratava de um amante virtual de nome: “Deus Apolo” que de tanto remexer no computador descobriu o “caso”. Quase despenquei da cadeira. Pasmei completamente. E à medida que declarava o seu drama pessoal, eu ficava ainda mais bestificada.
Contou que Débora se levanta de madrugada com a desculpa de que vai baixar pesquisa pros meninos, e que o horário as tantas é gratuito, somente pra se sentar e “teclar” com esse tal “Deus Apolo”. Antes de jogar meu pato de porcelana ao chão, amaldiçoou a internet e tudo que dela vinha. -Vou pedir separação! Declarou tão decido que nem ousei argumentar o contrário. Pensei comigo mesma, enquanto recolhia os cacos do chão, que entre o amante virtual e a besta real de meu primo, Débora estava certa!
Ele partiu mais aliviado depois de ouvir alguns conselhos de Gilda que é macaca velha e de tudo sabe na vida.
Naquela mesma tarde fresca e iluminada, me acomodei a rede da varanda e fiquei a pensar na Débora e seu amante virtual, e em tudo que ouvi. Confesso de boa alma, que até achei o nome do amante bastante sugestivo. Sonhadora que sou, dei asas a imaginação e não demorou, pra vislumbrá-la toda feliz ao lado de um belo louro alto e galante, daqueles que a gente vê em filme americano, pernas grossas, bíceps avantajados, bem dotado... Mas o intruso olhar decadente e deprimido de meu primo, se atreveu. -Débora que é mulher de sorte! Pensei mirando o por do sol tão lindo! Sampaio que cuidava de agasalhar a gaiola do mudinho também me assitia, por isso veio sorrateiro investigar a estranha nostalgia em meu sorriso. -Ta suspirando de quê, rosinha? Não deixei o por do sol por ele, mas respondi que recordava coisas boas. Se sou exímia sonhadora, ele nasceu de alma gêmea com a desconfiança. E não se dando por convencido aproximou-se intrigado, disfarçando olhares e bocas, para enfim, especular. Sorri e o chamei pra deitar-se junto a mim. Abraçou-me apertado, roçou a barba mal feita no meu pescoço, coisa que gosto é esse roçar, esse chamego que me arrepia do pé a cabeça. -Divide comigo tuas coisas boas, minha Rosinha. Pediu quase que implorando. Besteiras! Respondi me aconchegando em seu peito peludo. Estou pensando em vender a velha escrivaninha e investir o dinheiro num computador com internet. - Não acredito! Tu é tão apegada a ela. Falou surpreso.To só preocupada com o canarinho, meu amor.
Sampaio se comoveu com o gesto. Beijou-me a boca com tanto gosto, que a noite passou e nem nos demos conta.

Um sonho chamado Werneck


Não sou despeitada, mas bem que senti certa inveja quando da janela de meu quarto, acenei comovida pra mudança de Clarice partindo embora naquela manhã. Bem que gostaria de um dia poder partir também pra uma casa mais bonita, conhecer novos vizinhos... Saber o gosto de vida nova. Desdenhar a sorte, não! Nunca faria isso. Apenas fico triste de ver um bom vizinho se despedir de mim. Parecem dias de sepultamento. Fico lamentosa rememorando os momentos bons que tivemos... Sampaio diz que sou a mulher mais sentimental e sonhadora da face da terra, choro com final de novela, romance triste e até por morte de cachorro... Só por que lembro a data todo mês do meu que morreu “acidentalmente” esmagado pelas rodas do seu “Fusca” como disse, mas tenho cá minhas dúvidas. Tudo bem que além negro como a noite, já há muito andava cego e surdo a esbarrar nas coisas... Mas foi o meu grande amigo, isto não nego! Nunca reclamou se a comida estava salgada, apimentada, mal temperada, e me fazia festas todas as manhãs quando abria a porta da cozinha para saudá-lo. Um santo, comparado a Sampaio que ultimamente reclama até do café de bentinha, e olha que há décadas usa o mesmo pó, a mesma água fervida, a mesma xícara... Penso que o que mudou, foi o paladar e o gosto da relação. A cada ano mais rabugento e crítico. Clarice deve estar dando graças à Deus de deixar pra traz um vizinho como ele. A pobre penou com suas queixas e ameaças a respeito dos filhos. Dois meninos inconseqüentes como os nossos foram, e caso não lembre, sofremos os mesmos inconvenientes, mas memória de “marido” se perde com o tempo. Sim, vão perdendo tudo aos poucos. A carteira de documentos é o primeiro sintoma deste mal acometido aos homens, depois o chaveiro, as datas importantes, a consideração, a vergonha, aliás, só adquirem barriga e mau humor, enquanto que mulher vai perdendo os sentidos de propósito. Há anos que tateio a relação em paredes frias. se Sampaio fala, eu não ouço, se chega, eu não o vejo e se insiste num assunto, concordo sempre sem saber com quê... Mas se fui feliz nesta vida, devo a ele estes momentos. Fez-me ser mulher completa e saciada, só não realizou alguns sonhos antigos engavetados, mas tenho esperança e sei que esta felicidade chegará por ele, como disse certa vez tia Dirce. Lembrá-la até me comove, pois gostava de vê-la aos domingos à cozinha dançando bolero, enquanto batia a massa do seu tradicional bolo de milho com erva-doce. Vez ou outra gargalhava cínica olhando janela a fora, mas eu sabia por que, e disso, guardo segredo até o túmulo. Uma vez, quando voltávamos da missa pelo atalho da chácara, pois gostava de usá-lo ainda que mais demorado fosse, só pra ver o amor proíbido. - Rosinha minha linda mocinha... Vou te contar aqui o segredo que somente a você permito. Sorriu tão lindo, somente pra contar que homem era mal necessário a vida de toda mulher, pois só ele trazia consigo a felicidade. Balancei a cabeça concordando. Eu era tão menina pra conceber o que queria que eu entendesse, mas prosseguimos pela trilha de barro no meio de mato, ela cantando e eu pensando, sonhando com um menino anjo de asas douradas trazendo na mão um saco dourado cheio de pó colorido que me arremessava ao corpo. Foi assim que vi a felicidade aos doze anos, e foi por este segredo de tia Dirce que comecei a sonhar meus sonhos desde então. Senhor José Madeira, galochas cumpridas, o mesmo blusão xadrez azul com cheiro forte de suor e colônia de alfazema, recolhia o agrião as margens do mangue que de longe vimos. Parecia até que premeditava-nos. Na curva da mangueira ele já aguardava ansioso, sorriso escancarado de alegria. Ficava tão contente de vê-la que recompensava ao prazer, uma sacola repleta de verduras verdinhas, mas era casado, eu sabia. Trocavam frases esquisitas que só hoje sei bem o que diziam e o que significavam um pro outro. Ô vida minha temperada de saudades, sonhos antigos e outros novos a me rondar a mente. Atrevidos são estes que surgem e logo hospedam a alma da gente como se fossem donos por direito, mas meus sonhos são amenos e delicados e não me afastam e muito menos põe risco a vida e realidade que vivo... Se um dia por ventura, Deus achar minha ficha perdida e me conceder o prazer de um realizado, com certeza vou ignorar o de querer mudar de vida, pois falo mal mas gosto mesmo é desta, vou pedir que realize o mais recente. O que nasceu na peixaria ontem ouvindo o poeta Gílio contar sobre sua infancia querida. Em suas saudades também sonhei. Tantas belezas detalhou, que me fez desejar conhecer sua cidade natal, Werneck, só pra passear no trenzinho panorâmico reconhecendo as paisagens que tão bem detalhou e me encantou. Com certeza neste passeio vai nascer inspiração pra tecer mais um sonho pra sonhar e esquecer as saudades que vão se acumulando as janelas do meu quarto. Afinal, sonhar é bom!


Texto de: Marisa Rosa Cabral

Publicado no recanto das letras. T:525211

Na comindade Poemas e Cia.

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Sou, mas quem não o é?



Podem me chamar de saudosista que não ligo. Gosto de preservar prendas inúteis, antigas saudades... Sou mesmo, este museu ambulante de quinquilharias, ou como citam meus íntimos: casa antiga fedendo a guardados. Mas não mentem. É isso que sou!
O que fazer se nascemos assim, com mazelas estranhas e incuráveis na alma? Embora feliz com a vida que levo, confesso que nada me dá mais prazer que remexer neste meu íntimo, e tão imenso baú de lembranças vãs, somente para me deleitar com olhares e sorrisos a muito extintos... Cena que nunca deleto, é rever meu papai recostado à porta da cozinha ofegante e cansado pelo mal que o levou, cantando a inesquecível “Boemia”. De mamãe o som dos dedos em mãos delicadas de pianista relaxada, saltitarem sobre a mesa, enquanto pensava e pesava a vida que não sonhou... lembro-a às tardes, quando varria as folhas largadas ao chão de barro de nossa casa humilde no surbúrbio, onde uma canção sempre nascia. Tinha na alma um ventre parideiro de fazer poesias belas, e que nasciam assim, com tão pouco estímulo... Stela cantava com voz afinada, eu, ao coro ajustada, e teinha dedilhava o violão pra nascer bonita a nova melodia...
Nestes devaneios ainda que insano, peso da vida tudo que sei e sou, e se sei tudo de dor e saudade aprendo com estes. Sou mesmo, este velho museu ambulante!

Marisa Rosa Cabral cabral.

publicado no recanto das letras. Código do texto: 509675.

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Casos de "rosinha": A invejável jovem "Mídia"

Casos de "rosinha": A invejável jovem "Mídia"

A invejável jovem "Mídia"




Jurema é uma dessas personalidades que a gente só encontra no subúrbio da cidade.
Voz pausada, carregada por um sotaque nordestino, muito comum por aqui. Desde moça solteira, lembro bem, a assisto batalhar a vida em faxina pela vizinhança. E sabiamente, como ouço contar, investe seu suado salário na boa educação das filhas, Elaine e Elisa, que cria sozinha com grande orgulho. Trata-se de uma mulher humilde, religiosa, viúva que prossegue a vida na mais perfeita decência e recato. Por isto, estranhei encontrá-la naquela manhã, descontraída, mas um tanto incomodada com a cadeira giratória do salão de beleza: “Mary Coiffeur”. Sorri percebendo-a aflita em meio a tantos espelhos, escovas, laquês... Não sei por que, mas sua presença naquele lugar me causou um estranho contentamento a alma. Sabedora de sua saga e lida, pensava que ela mais que ninguém, merecia usufruir daquele espaço privado, onde nós mulheres dispensamos sem pesar, boa parte do salário somente, para sustentar a vaidade tola de se sentir bem. Um mal imprescindível ao ego feminino! Sampaio diz que é defeito congênito, mas quem é ele pra questionar, se sua vaidade é ainda maior. Passou boa parte da vida servindo a pátria, pátria esta, que nunca reconhecerá seu valor, treinando novos soldados em guerrilhas simuladas, e ainda aposta que não morre sem vê ao menos uma guerra! Merece ver mesmo pelo tanto se empenhou, mas que seja em outro país... Jurema mais que ninguém, merecia degustar daquele momento especial. E garanto que este seria um momento que nunca esqueceria! Como era meio de mês, salão em baixa temporada, pudemos compartilhar de uma conversa mais reservada sobre o assunto que a convencera estar ali. Disse-me tão orgulhosa que Elaine, sua filha mais velha, inteligente que a fama, era por todo reconhecido, havia conseguido boa classificação no vestibular de Direito para Universidade Federal do Estado. Mais que justo, querer ficar bonita para uma comemoração desta! Falei orgulhosa, já que hoje em dia é tão raro um filho proporcionar estas alegrias. Eu mesma, digo de cadeira, não é mesmo! O meu João Pedro é um desajuizado. Imagine, que há três anos seguidos, vem tentando vestibular, e nada. Nem corre riscos nas reclassificações, mas um dia, tenho fé, quem sabe consiga o feito. Se conseguir, já não será razão de alegria, mas de grande alívio, pois haja dinheiro pra bancar cursinhos e apostilas. Sampaio este ano até, adotou o sistema de agenda pra anotar todas as despesas do filho, e a quase um ano que assisto inconformada, todas as manhãs, meu filho partir com seus livros em frangalhos aos braços, ouvindo a mesma ladainha do pai e suas cobranças. Parece prece de terço maligno em romaria pra santo renegado. Mas homem quando quer ser arrogante o faz tão eximiamente que quem vê se assusta... Mas Jurema se achegou a mim sorrateira e muito tímida que é, comentou baixinho, que invejava certas celebridades. O comentário me surpreendeu, mas prosseguiu confidenciando, que até então, seu mundo foi somente sonhar um futuro bom pras filhas... “Qual mãe nessa terra de meu Deus, que não vive a tecer na alma lindos sonhos pros filhos?” Falei solidária e ainda acrescentei que a gente voa tão longe e alto...
Jurema puxou a cadeira mais pra perto e muito mais à vontade, contou que ha muito vinha ouvindo e acompanhando pelas manchetes, rádios, televisão... Enfim, tudo que podia ouvir sobre tal jovem de nome: “Mídia.” Neste momento paralisei os gestos e o pensamento para conceber de quem se tratava de fato, ao que tão inocentemente prosseguiu relatando sem pudor ou malícia, que, desde que soube dos projetos da filha Elaine, em se formar em doutora advogada, passou a desejar fervorosa em suas orações e vigílias, que sua menina também, pudesse contar, nem que fosse com a metade da sorte que a tal da “Mídia” tinha, e desdenhava pelo mundo à fora.
_ Imagine, falou ela, que até na política a danada é respeitada e por demais, influente! Saquei toda moral naquele momento, mas para não deixá-la constrangida em data tão importante, simplesmente concordei.
Jurema baixou os olhos e levou a mão à boca como se fosse proferir blasfemas, mas muito simplória, indagou-me se Deus se ofenderia com os desejos vaidosos de uma mãe, atentando categórica, que invejar a sorte de outros não é boa prática cristã. Neguei veemente um castigo divino, e ainda acrescentei de boa alma, que o que importava naquele momento, era que Elaine prosseguisse provando seu talento e determinação. O reconhecimento seriam provas de bom resultado. Então, aquela pessoa humilde, bonita e de mãos calejadas, desenhou em seu olhar envelhecido um cativante sorriso acanhado e me sussurrou como quem revela um segredo, que pela grande fama da moça, Mídia, no mínimo, deva ter estudado em alguma universidade americana. _Aquelas famosas que a gente vê nos filmes.
Concordei gargalhando de sua magnífica coerência em julgar os fatos, e antes que partisse de vez, segurei-a pela mão e olhando-a firme nos olhos disse.
_Sabe Jurema, no fundo você esta coberta de razão. Essa tal de “Mídia” pela fama incontestável que promove por aí, só pode ser cria de americanos. Os caras lá são muito, inventivos!
_E com certeza, deve ser loura, né dona Rosinha? Sacudi a cabeça concordando e fiquei ali, em silencio, pensando nestes momentos fantásticos que a vida nos apresenta a cada dia abençoado por Deus







Texto de Marisa Rosa Cabral.


Editado no Recanto das letras. sob o código de texto: T 509529.


Comunidade: Café Filosófico.


Comunidade: Poesias e Cia.

Mulher de peito!!!!




...


_Maridos, pra que tê-lo(s), se não tê-lo(s) como sabê-lo(s)?
Pensei suspirando sacando a bolsa, documentos e partindo porta à fora ignorando os argumentos falidos de Jorge Sampaio, meu marido. Primeiro, resmungou do horário da consulta com o cirurgião plástico que, diga-se de passagem, consegui à custa de sacrifício alheio, para nossa filha Mariana... Depois, praguejou o café frio, engolido às pressas, tudo para não perdermos a carona que, Cícero gentilmente nos ofereceu, e, por fim, criticou a cor do blusão teimando não combinar com seu jeans (como se houvesse outra escolha)... E, conhecendo bem o marido que Deus me deu por castigo, ignorei as queixas. Afinal todo aquele mau humor se dava apenas, pelo sacrifício de despertar cedo e nos acompanhar até o Centro da Cidade, onde se localiza à Santa Casa de Misericórdia, (e haja misericórdia) pois infelizmente, os documentos de autorização dependiam das nossas assinaturas._ Tudo vaidades! Tudo vaidades! Resmungava ele repetindo as frases do seu finado pai.
É só isso que sabe dizer quando o assunto não lhe favorece. Se fosse pra uma partida de futebol com os amigos do bairro, estaria de pé sem reclamar uma palavra. _Vaidade é uma ova! Respondi furiosa afagando os cabelos de Mariana que cochilava em meu ombro. Não sou de duvidar da sorte, querido! E, no mais, seria burrice permitir que uma oportunidade rara dessa, passasse em branco por minha vida... Vaidade ou não, farei o que for preciso para impedir que minha filha cresça atolada em complexos. Já basta ser pobre, pois pra pobreza, meu caro, não há cirurgião que dê jeito!
Prossegui a viagem calada, rezando agradecida e relembrando os sofridos cento e vinte três dias, catorze horas e vinte e dois minutos de angustia que tive de suportar aguardando por essa bendita consulta, e que, não levaria um tostão do bolso de Sampaio!
Chegamos com tempo de sobra ao hospital que aquelas primeiras horas já fervilhava de gente falante e ansiosa. Deixei Sampaio cuidando de Mariana e fui me certificar das coisas por ali. Ciente de tudo e sem que ninguém percebesse, furtei um cafezinho na sala de exames e saí a caminhar pelos corredores silenciosos a fim de amenizar a tensão. A imagem de Gilda surpreendeu meus pensamentos, então, sorri agradecida por sua generosidade sem medida. _O que seria de mim sem meus amigos? Falei comigo mesma lembrando que foi ela, Gilda, vizinha de longos anos quem me fez conseguir aquela consulta com o melhor cirurgião plástico. Dr. Carlos Gusmão. O mesmo que meses atrás executou uma bela plástica em seus seios. Caídos e volumosos. Relembrei seu bom humor quando, muito antes da cirurgia, apelidara-se a si mesma de “Mulher Patrimônio”, e concluía a largos sorrisos... Seios, bunda... Tudo tombado! De fato seus seios ficaram perfeitos! Parecem peitinhos de moça solteira que agora desfilam em diversos decotes sensuais pelas ruas do subúrbio.
_Mariana Rosa Sampaio, chamou a voz rouca do outro lado do guichê. Suspirei sorrindo entrando na fila... Tudo certo! Retornei para buscá-los. De longe, observei o imprestável do Sampaio cochilando e babando sobre os ombros frágeis de Mariana, que raiva! Adiantei-me pra socorrê-la.
No curto caminho fui falando com Deus, pedindo que o tal Dr. Carlos Gusmão, tão competente em reerguer peitos tombados, promovesse o mesmo milagre com o nariz “chato” de Mariana... Tudo acertado. Cirurgia marcada para semana seguinte após o aval do clínico. De repente, sem motivos aparentes, Sampaio ficou tenso preocupado que até estranhei, mas logo tudo se esclareceu. Sua dúvida era quanto ao custo dos exames.
_ Então os exames, RX e tudo o que for preciso ficará totalmente grátis? O doutor respondeu que sim, e eu ainda reinterei de que, inclusive, nem seria mais necessária sua presença, ao que concordou feliz.
Muito sem graça, agradeci ao Dr. Carlos Gusmão pela atenção dispensada e ainda tive de me desculpar por Sampaio que a essa altura, já ía longe. Adiantou-se no caminho louco pra voltar pra casa. Enquanto ajeitava as tranças de Mariana pensava silenciosa... Oh, Deus, sei que é pecado confabular contra o próximo, mas se um dia, a medicina avançar a ponto de conseguir mudar personalidades, eu arriscarei com Sampaio, tranquilamente. Fosse o tempo que fosse à fila de espera, sem mencionar o imenso prazer que teria! Apressei-me e alcançando-o no caminho ajeitei seu blusão, acertei seu cabelo e perguntei baixinho: _ Doeu?!
***




Texto de: Marisa Rosa Cabral




publicado no recanto das letras, sob o código de texto: T509513

Comunidade Poesia e Cia.

Comunidade Café Filosófico das 4.

Oswaldo Cruz... Meu bairro é poesia.


Nasci, cresci e me casei em Osvaldo Cruz.
Não me assusto em constatar que morrerei por cá também.
Falando assim, até parece que é sina ruim,
Mas com alegria contagiante declaro, que
Sou suburbana feliz e praticante!

Meu bairro fica bem ao lado de Madureira.
Subúrbio da Cidade Maravilhosa!
Citam-no como raiz do samba, terra de gente bamba,
Berço da gafieira em quintais de manga rosa.

Mas o que percebo é um povo humilde, chinelos gastos, roupas simples, sorriso sincero e um devotado:
Bom dia! Boa tarde! Boa noite! e Como vai?
Que até parece verso decorado.

É natural ouvir da janela um pedido de favor,
Que vai de uma simples panela grande, um xarope, um cobertor, uma carona pra maternidade, e até um ombro
Pra derramar mágoa e dor.
Se essa gente é bamba não sei.
O que sinto, é que na cadência diária do trem que parte, e chega, tem mesmo um batuque de samba.
Uma marcação cerrada que nos adverte pro trabalho,
Pra escola, pras compras...
Em fim, pra vida nossa de cada dia.

Penso se não foi nessa cadência que chegou a “inspiração”
No peito de um caboclo apaixonado.
Pois dizem que um boêmio bem trajado,
Terno de linho e cravo na lapela.
Por este encanto inspirado, criou a nossa “Portela”.

Hoje tenho quarenta e oito anos exatos!
E vivo aqui voluntária de alma e alegria,
Agregada a esta grande família que
Estende-se de um lado a outro da ferrovia.

Desde lá, 1959, que assisto o preguiçoso progresso se atrever.
O que antes eram pastos verdes, brejos e vacarias
Hoje se formou vilas de casas que abriga famílias,
Crias de antigas famílias.
Findou-se a famosa granja somente pra comportar
a civilização recém chegada,
pois somente esta se atreveu em crescer galopante,
Mas muito determinada.
Novidades chegaram também.
Hoje podemos contar com duas drogarias.
Quatro boas padarias, que disputam acirrados
Pães fresquinhos a toda hora, para toda freguesia.

Senhor João ainda mantém se mercadinho
E sem que ninguém perceba, este
Cresce a cada ano um bocadinho.
Temos escolas grandes pra incentivar a cultura.
E se não for preguiçoso o bom moço,
Logo mais adiante fica a linda floricultura.

No antigo campinho da Rua Pereira de Figueiredo,
Que abrigava a frondosa e inesquecível mangueira,
Uma fábrica se instalou e não é que deu certo!
Hoje já são duas. Opa, três! Quatro fica correto!

Onde jorrava inesgotável o tradicional “bicão”
Ergueu-se a mansão azul de janelas branquinhas,
Varanda ampla e cercada por plantas verdinhas.
Extinguiram-se as famosas lavadeiras
Com suas trouxas de roupas cheirando a jasmim,
Mas compensou.
Hoje só moça faceira de mini-saia,
É quem passeia e encanta naqueles jardins.

Osvaldo Cruz é terra de tantas marias,
E as filhas destas, casaram-se e ficaram por aqui.
Famílias pobres e de altas patentes.
Mas em todas nasce um inteligente.
E é assim que vive minha gente passeia tão displicente
No meio de tantos a sorrir.

Nem vou citar os famosos que por aqui fizeram histórias.
Deixa-os adormecidos no leito fogoso da memória,
Pois os que daqui partem e, que não seja por morte,
Sempre voltam pra curtir um pouquinho
desse doce pedacinho de paz, que resiste a toda sorte.

Aqui não tem favelas.
Apenas algumas casas velhas carecendo de reformas...
E enquanto a grana não se apressa,
Toda essa gente se conforma.

Oswaldo Cruz é um porto seguro
sempre de braços abertos a nos receber.
Um humilde paraíso longe da maresia do mar,
das belas florestas e nem nos alcansa o abraço do Cristo Redentor,
Mas nas noites de inverno tem o mais belo luar
Que da sacada fico a meditar ao léu,
Se não é isto cá, um pedaço do céu.

Sempre que me perguntam como é meu bairro
Digo convicta, que é o quintal de minha casa,
A janela de minha sala,
As alegrias de meus canteiros,
E o ano todo é fevereiro!

Ah... Meu nome é Marisa Rosa Cabral,
mas aqui serei simplesmente, "rosinha" contando casos hilários.

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Comentando a vida alheia...

Oi, Sou a Rosinha compartilhando a vida cheia de graça com você. Do cotidiano onde, nada me escapa. nenhum detalhe se perde através das vidraças de minha janela, e pode acreditar, tudo narrado aqui, foi vivido na íntegra, eu apenas, acrescento a cada conto uma pitada deste bom humor sagaz e imperativo que Deus me deu!(risos)

Quem sou eu

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Para Marisa Rosa Sou geminiana, sim! Sou geminiana sou, simples e complicada vaidosa e relaxada... uma mulher cheia de amor. Inconstante é-me a minha própria carne e se a timidez me persegue é ela minha indócil estrada que chega a tirar-me o fôlego. Meu choro é cheio como o mar e jorra livre como o vento e não esconde o que eu sinto quando minha face vive e expõe as faces dos meus sentimentos. Sou a chuva que busca a solidão no nostálgico das brumas a viciar-me na poesia que traço quando minha alma, o coração abraça e no peito uma mulher declama. Paulino Vergetti em 2 de Setembro de 2008 http://www.luso-poemas.net/modules/yogurt/index.php?uid=5737