quarta-feira, 30 de maio de 2007

Mulher de peito!!!!




...


_Maridos, pra que tê-lo(s), se não tê-lo(s) como sabê-lo(s)?
Pensei suspirando sacando a bolsa, documentos e partindo porta à fora ignorando os argumentos falidos de Jorge Sampaio, meu marido. Primeiro, resmungou do horário da consulta com o cirurgião plástico que, diga-se de passagem, consegui à custa de sacrifício alheio, para nossa filha Mariana... Depois, praguejou o café frio, engolido às pressas, tudo para não perdermos a carona que, Cícero gentilmente nos ofereceu, e, por fim, criticou a cor do blusão teimando não combinar com seu jeans (como se houvesse outra escolha)... E, conhecendo bem o marido que Deus me deu por castigo, ignorei as queixas. Afinal todo aquele mau humor se dava apenas, pelo sacrifício de despertar cedo e nos acompanhar até o Centro da Cidade, onde se localiza à Santa Casa de Misericórdia, (e haja misericórdia) pois infelizmente, os documentos de autorização dependiam das nossas assinaturas._ Tudo vaidades! Tudo vaidades! Resmungava ele repetindo as frases do seu finado pai.
É só isso que sabe dizer quando o assunto não lhe favorece. Se fosse pra uma partida de futebol com os amigos do bairro, estaria de pé sem reclamar uma palavra. _Vaidade é uma ova! Respondi furiosa afagando os cabelos de Mariana que cochilava em meu ombro. Não sou de duvidar da sorte, querido! E, no mais, seria burrice permitir que uma oportunidade rara dessa, passasse em branco por minha vida... Vaidade ou não, farei o que for preciso para impedir que minha filha cresça atolada em complexos. Já basta ser pobre, pois pra pobreza, meu caro, não há cirurgião que dê jeito!
Prossegui a viagem calada, rezando agradecida e relembrando os sofridos cento e vinte três dias, catorze horas e vinte e dois minutos de angustia que tive de suportar aguardando por essa bendita consulta, e que, não levaria um tostão do bolso de Sampaio!
Chegamos com tempo de sobra ao hospital que aquelas primeiras horas já fervilhava de gente falante e ansiosa. Deixei Sampaio cuidando de Mariana e fui me certificar das coisas por ali. Ciente de tudo e sem que ninguém percebesse, furtei um cafezinho na sala de exames e saí a caminhar pelos corredores silenciosos a fim de amenizar a tensão. A imagem de Gilda surpreendeu meus pensamentos, então, sorri agradecida por sua generosidade sem medida. _O que seria de mim sem meus amigos? Falei comigo mesma lembrando que foi ela, Gilda, vizinha de longos anos quem me fez conseguir aquela consulta com o melhor cirurgião plástico. Dr. Carlos Gusmão. O mesmo que meses atrás executou uma bela plástica em seus seios. Caídos e volumosos. Relembrei seu bom humor quando, muito antes da cirurgia, apelidara-se a si mesma de “Mulher Patrimônio”, e concluía a largos sorrisos... Seios, bunda... Tudo tombado! De fato seus seios ficaram perfeitos! Parecem peitinhos de moça solteira que agora desfilam em diversos decotes sensuais pelas ruas do subúrbio.
_Mariana Rosa Sampaio, chamou a voz rouca do outro lado do guichê. Suspirei sorrindo entrando na fila... Tudo certo! Retornei para buscá-los. De longe, observei o imprestável do Sampaio cochilando e babando sobre os ombros frágeis de Mariana, que raiva! Adiantei-me pra socorrê-la.
No curto caminho fui falando com Deus, pedindo que o tal Dr. Carlos Gusmão, tão competente em reerguer peitos tombados, promovesse o mesmo milagre com o nariz “chato” de Mariana... Tudo acertado. Cirurgia marcada para semana seguinte após o aval do clínico. De repente, sem motivos aparentes, Sampaio ficou tenso preocupado que até estranhei, mas logo tudo se esclareceu. Sua dúvida era quanto ao custo dos exames.
_ Então os exames, RX e tudo o que for preciso ficará totalmente grátis? O doutor respondeu que sim, e eu ainda reinterei de que, inclusive, nem seria mais necessária sua presença, ao que concordou feliz.
Muito sem graça, agradeci ao Dr. Carlos Gusmão pela atenção dispensada e ainda tive de me desculpar por Sampaio que a essa altura, já ía longe. Adiantou-se no caminho louco pra voltar pra casa. Enquanto ajeitava as tranças de Mariana pensava silenciosa... Oh, Deus, sei que é pecado confabular contra o próximo, mas se um dia, a medicina avançar a ponto de conseguir mudar personalidades, eu arriscarei com Sampaio, tranquilamente. Fosse o tempo que fosse à fila de espera, sem mencionar o imenso prazer que teria! Apressei-me e alcançando-o no caminho ajeitei seu blusão, acertei seu cabelo e perguntei baixinho: _ Doeu?!
***




Texto de: Marisa Rosa Cabral




publicado no recanto das letras, sob o código de texto: T509513

Comunidade Poesia e Cia.

Comunidade Café Filosófico das 4.

2 comentários:

Poesias disse...

Querida Marisa, estou encantada e emocionadacom esse Blog. Alguns 'causos' são meus velhos conhecidos.Sou sua fã e ponto final! Parabéns e sucesso!!!

Poesias disse...

Desculpa sou a Flor de Lótus Azul...rsss

Seguidores

Comentando a vida alheia...

Oi, Sou a Rosinha compartilhando a vida cheia de graça com você. Do cotidiano onde, nada me escapa. nenhum detalhe se perde através das vidraças de minha janela, e pode acreditar, tudo narrado aqui, foi vivido na íntegra, eu apenas, acrescento a cada conto uma pitada deste bom humor sagaz e imperativo que Deus me deu!(risos)

Quem sou eu

Minha foto
Para Marisa Rosa Sou geminiana, sim! Sou geminiana sou, simples e complicada vaidosa e relaxada... uma mulher cheia de amor. Inconstante é-me a minha própria carne e se a timidez me persegue é ela minha indócil estrada que chega a tirar-me o fôlego. Meu choro é cheio como o mar e jorra livre como o vento e não esconde o que eu sinto quando minha face vive e expõe as faces dos meus sentimentos. Sou a chuva que busca a solidão no nostálgico das brumas a viciar-me na poesia que traço quando minha alma, o coração abraça e no peito uma mulher declama. Paulino Vergetti em 2 de Setembro de 2008 http://www.luso-poemas.net/modules/yogurt/index.php?uid=5737