segunda-feira, 29 de setembro de 2008

CAUSAS E EFEITOS

Causas e Efeitos!


Tudo de repente, passou a ser ridículo. A gente vive no mundo iludido, alimentando falsas ilusões que não nos levam a nada. Um desperdício de tempo, tempo que deveria ser investido em coisas mais importantes, e como existem coisas importantes em nossa vida... A dor de Valéria, por exemplo, sua solidão e amargura que no desabafo de outro dia, me fez abater e sofrer com ela. Uma vida sem amor, sem expectativas, que chegou a confessar que a morte lhe seria premio. O que faz uma pessoa desprender-se assim dos projetos diários que a vida lança a todo o momento pra viver se martirizando? Pensei e me perguntei baixinho quando, preparava o café da tarde em que, sozinha, pesava também meus próprios dilemas. A vida é complicada ou a complicamos quando não devíamos, mas é assim que aplicamos a lei de causas e efeitos. Têm dias que estou feliz e agradecida por tudo que Deus me permitiu possuir. Causa: sou bem “casada”, tenho filhos saudáveis, inteligentes e carinhosos, sou bem querida por meus irmãos... Posso contar com meus amigos... Mas não sei por que casa, Saturno e lua partem a vadiarem que me deixam avessa, pensando que tudo que possuo aflige, fastia e deprime. Efeito: O desgosto se estabelece e qualquer gesto ou palavra viram setas fincadas no alvo inflamado. Às vezes me indago o por quê de agir assim, como Valéria, engolindo a saliva amarga e respirando um ar quente e pesado que tocando a alma contaminam tudo. Certa vez, ouvi Gilda comentar, que o mundo da mulher gira ao inverso do mundo dito! E é verdade! Tereza, semana retrasada, me comoveu com sua estória de amor. Causa: Depois de três anos separada do marido infiel e libertada a vida dos maus tratos e humilhações, resolveu ceder então, ao destino, a chance de provar que ainda havia tempo e espaço pra ser feliz! Há meses encontra um novo pretendente carinhoso, afetuoso e cheio de boas intenções. Confidenciara-me seus segredos, envolvida num sorriso inspirador e olhares delirantes. Amei vê-la assim, tão decidida em largar mão da solidão e ceder aos apelos da vida e ser feliz.
Brindei o fato, sozinha, com uma taça de vinho a varanda, mirando a chuva que caía naquela tarde.
De fato, penso que solidão é colo fogoso pra se sonhar ou meditar, mas ontem, por acaso, passando de carro, pela rua deserta, flagrei Tereza com antes, apática e decadente, distante de toda aquela felicidade contagiante. Efeito constrangedor, Causa ignorada!
Não posso condená-la. Andei assim, também, possuída por novas inspirações e declinei destas sem grandes apelos.


Imagine, que mês passado, andei conspirando e pesquisando pela internet e mediante aos resultados encontrados, fiquei tentada em me desfazer de minha antiga coleção de selos. Acreditava que venda me renderia algum trocado, e com isso, poderia realizar sozinha, (causa) meu antigo sonho de lançar no mercado literário um livro meu. Uma produção independente, como bem lembrou João Gustavo, sem carecer da ajuda de ninguém. Aliás, há muito que abandonei o hábito de pedir favores. Fartei a alma de tanto ouvir na vida os sermões, tipo: “Eu não te disse”! “Eu bem que te avisei”!... Estes horrorosos “clichês” que por muitos me assombraram. Em contrapartida, tinha plena consciência de que, meu projeto, não passava de uma vaidade minha, tecida com carinho extremo, como mãe gestante construindo o enxoval de seu primeiro filho. Já concebia na imaginação todo o evento: a capa, os textos, os poemas... Os sorrisos na noite de autógrafos, as belas criticas... Jornalista numa coletiva me entrevistando... Mulher delira! E por ser meu sonho, deveria bancá-lo só. Há anos que minha coleção, herança que meu pai me deixou, vive abandonada, descuidada numa caixa de madeira largada no quarto da bagunça. Confesso que durante um tempo, tive esperanças de que, um de meus filhos se interessassem, mas para eles, o montante armazenado em álbuns, não passava de picotes de papel velho, fedido e sem beleza!...
Não foi bem o que eu esperava, mas consegui fazer negócio com os selos. Graças a Deus! Meu filho, entendido de finanças, tratou logo de abrir uma conta poupança bancária em meu nome e ainda, me presenteou com dois cartões de créditos! Passei os dias entusiasmada com a vida! Bendizia-a, em tudo! Em minha agenda já constava o endereço das melhores editoras, durante a semana muitos emails chegaram exibindo vários orçamentos. Passeei pelo centro da cidade, vendo roupas, sapatos, bolsas finas... Naqueles dias de torpor, despertava cedo e custava pegar no sono. Vivia embalada por esta doce ansiedade. Até Sampaio passou a me tratar melhor, mais cordial, largou mão do olhar aviltante, mas não calou a voz da crítica, atentando que seria um gasto perigoso, afinal, não se tratava de nenhuma famosa escritora!... Apesar dos pesares naqueles dias dourados e inspiradores, andei sobre nuvens cintilantes. Até que, de repente tudo foi amenizando e minha insuficiência voltou-me ao lirismo frugal da citação diária e logo já, a maldita duvida me possuía como fornalha sedenta, querendo a tudo consumir, restando apenas cinzas que o vento levaria embora... E, enquanto degustava meu cafezinho, divagando, já sem tanto vigor, o futuro, ia caminhando pelos cômodos, e mirando-os minuciosamente. Canto a canto. Percebendo a enorme carência que por ali se instalara sem que me desse conta. Minha casa necessitava de cuidados! Aquelas portas antigas, empenadas, rangiam gritando: baaaaaasta! As janelas de madeiras corroídas pelo efeito do tempo, agasalhadas por cortinas desbotadas levitavam com o vento e sussurravam ardilosamente: Que horror! Os móveis cochichavam entre eles e desdenhavam o meu desapego. O que fiz? Larguei a xícara sobre a pia, corri e resgatei do lixo o velho baú vazio que durante décadas guardou meus selos e, depositei nele todos os meus sonhos, como se fossem os mesmo, picotes de papeis velhos, fedidos e sem nenhum valor. Tranquei a porta do quarto com cadeado, joguei longe a chave e os abandonei lá, no quarto da bagunça, longe de meus olhos. Depois, suspirei profundo, engoli a saliva amarga na intenção de desfazer o nó que na garganta já se formava, lembrando os mesmos efeitos no olhar de Valéria, Tereza... E saí pras compras!
Sampaio que mal acabava de chegar e se servia de um copo de leite se assustou quando eu falei a respeito dos novos pedreiros contratados que viriam pra cuidarem da reforma da casa, e ainda sorrindo de sua cara de assustado concluí: _Quero que fique tudo lindo e pronto em duas semanas no máximo, pois é quando chegarão os móveis novos que comprei! Antes que eu deixasse a cozinha com a roupa passada, me chamou atenção seu semblante preocupado. Percebi que examinava estupefato, o valor pago nas notas fiscais. Muito abatido e decepcionado, liberou uma mágoa profunda na voz engasgada _ Percebo que não sobrou dinheiro suficiente pro seu livro, minha Rosinha... Mas a gente dá um jeito, né? Falou tentando forjar um sorriso consolador. Voltei-me e abraçando-o com ternura e gratidão sincera, falei-lhe ao pé do ouvido: de hoje em diante, nada de promessas e sonhos difíceis. Não tenho mais idade pra esperá-los... E no mais, quem é esta tal de Rosinha? (sorri) Quem estaria interessado em ler as besteiras que uma amadora tão sem talento, escreve à mesa de sua cozinha, enquanto prepara o jantar? O máximo que consegui na vida, e muito me orgulho, foi quando me tornei sua senhora, mãe de teus filhos!
Ele mordeu os lábios, tentou falar, mas preferiu calar o que não devia... Mas mesmo assim, sorri e pisquei-lhe o olho na intenção de provar que não havia nenhuma mágoa ou ressentimento em minha palavras, mas contava apenas, que surtissem algum efeitoli. Parti em seguida, levando as roupas passadas, pra guardar, deixando-o só, pensando e pesando os efeitos de suas palavras, pois assim como eu, Valéria, Tereza... e tantas outras mulheres encantadoras e talentosas, se apagam no auge de seus sonhos ou deixam aplacar pelos inevitáveis efeitos de gestos e palavras, pronunciadas ou silenciadas!

Marisa Rosa Cabral.

2 comentários:

maria de fátima da silva de arajo disse...

Olá querida como sabes eu adoro tudo que vc escreve então mais uma vez parabéns pelo lindo e maravilhoso texto fica com Deus e bjs.

Manoel Virgílio disse...

Oiii Rosinha Comovente o seu caso. Bem humano, como vc. Retrata, o seu causo, tão bem escrito, realmente o dotidiano, o nosso dia-a-dia ( continua com os "tracinhos" ou não? Não cheguei,ainda, a uma conclusão. Tenho que estudar melhor a tal nova ortografia). Muito gostoso ler os seus causos. Passei uns tempos sem vir aqui, mas hoje matei a saudade e a vontade. Beijos mil

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Oi, Sou a Rosinha compartilhando a vida cheia de graça com você. Do cotidiano onde, nada me escapa. nenhum detalhe se perde através das vidraças de minha janela, e pode acreditar, tudo narrado aqui, foi vivido na íntegra, eu apenas, acrescento a cada conto uma pitada deste bom humor sagaz e imperativo que Deus me deu!(risos)

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Para Marisa Rosa Sou geminiana, sim! Sou geminiana sou, simples e complicada vaidosa e relaxada... uma mulher cheia de amor. Inconstante é-me a minha própria carne e se a timidez me persegue é ela minha indócil estrada que chega a tirar-me o fôlego. Meu choro é cheio como o mar e jorra livre como o vento e não esconde o que eu sinto quando minha face vive e expõe as faces dos meus sentimentos. Sou a chuva que busca a solidão no nostálgico das brumas a viciar-me na poesia que traço quando minha alma, o coração abraça e no peito uma mulher declama. Paulino Vergetti em 2 de Setembro de 2008 http://www.luso-poemas.net/modules/yogurt/index.php?uid=5737