quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Veja

Veja, se o mundo parasse por causa de tragédias, acidentes, mortes, decepções, desilusões, amores perdidos, guerras, descasos, pecados, dores, paixões, desesperos, impaciências, injustiças, injúrias, perdão, angústias, doenças, ganhos, grana, pai, mãe, avós e tias. Se o mundo parasse porque ele não veio, não me quer mais, deixou de amar, quer ser livre, ou então, porque desisti de querer sonhar, quero minha cama, vou acabar com tudo! Se o mundo parasse, tudo pararia com ele. A vida é como o mundo, segue sempre... As vezes nem sabemos para onde, outras temos certeza, no entanto, ela segue. Tal qual um rio que desatinado em seu curso só tem uma meta, chegar ao mar. Por isso te digo: - Segue... O mar te espera! E, quando mergulhares em suas águas salgadas, tu que doce como os córregos trafegava, lembra-te de mim...


maris



Cotidiano.

Ontem Cecília e eu fomos pegar as crianças na escola. Esse é um pequeno momento que compartilhamos nossas angústias, nossas queixas de mulher, esposa e mãe. Chegamos um pouco mais cedo, pois as coisas aqui na comunidade não estão muito boas. Ultimamente viramos figurantes de um filme de terror, já me vi na TV correndo feito uma desesperada. Cecília está até doente pelo susto que passou semana passada, quando um sujeito estranho entrou pela casa dela para se esconder da polícia. Imagina, um pelotão de fuzilamento apontando para sua humilde casa, na caça do tal bandido, e a criatura lá dentro com as crianças como refém. Felizmente tudo acabou bem, quer dizer, ninguém se machucou, o danado fugiu pelo muro dos fundos que nem um tinhoso. Cecília ficou um caco de gente. Meu Deus o que está acontecendo com nossa cidade? Nem parece mais a mesma. Todos os dias, eu peço ao Todo Poderoso para poupar nossa gente, que só faz sofrer e trabalhar. Nem o nosso tradicional churrasquinho na laje, nós não podemos fazer mais. Junho passou e nem fizemos nosso arraia. Tempo de sangue e morte esse que ronda nas noites e invade o dia. As crianças vivem igual prisioneiras, e por mais que agente tente não deixar elas verem o que acontece, está tudo ali, na nossa frente.
Carlos dono da banca de jornal, que é um gozador, toda vez que vou buscar o jornal, diz que vai correr no PAN e que vai trazer a medalha de ouro e pendurar na banca, pois nos últimos meses o que mais faz é treinar. Quando ouve o primeiro tiro corre mais que aqueles africanos da maratona. Eu acho graça, mas quando vejo a cara da Cecília tão abatida, me dá um nó no coração. Senhor olha por nós que acabamos morrendo sem saber porque.


Insonia.

Mais uma noite sem dormir pensando na vida. Tantas coisas para resolver, tantos problemas em casa. O salário de Jorge mal dá para pagar as contas da casa, com meu salário de professora pouco ajudo. Jorginho entrou no pré- vestibular, quer ser engenheiro, Mariana já está fazendo Serviço Social e Marina terminando o ensino médio. Agora começar apensar no enxoval do bebê, que deve nascer no final de fevereiro. Chica disse que pareço uma desconsolada com essa gravidez aos cinqüênta e dois anos, deva achar pouco. Jorge as vezes fica me olhando estranho. Eu sei que ele tá feliz com a gravidez, mas têm horas que parece me recriminar, sai lá, acho que to ficando meio maluca de tanto pensar nisso e naquilo... Padre Olavo disse que eu devia confiar mais em Deus, pois ele sabe de todas as coisas, sabe mesmo?! Pode ser, mas anda pensando meio trocado comigo, que tenho tanto medo de morrer e deixar essa criança no mundo. Bem diz Dona Corina que há tempo pra tudo nessa vida, não seria a hora de eu e Jorge ficar mais quietos. Hoje danei de ter vontade e comer manga verde com sal, o cheiro de alho fritando me causa arrepios e náuseas e meus seios estão tão grandes! até que nesse sentido eu tô gostando, parece até os peitos de Xuxa depois que botou silicone. Quero que tudo corra bem, pois sei que na minha idade posso gerar uma criança com deficiência. Jorge briga comigo quando falo sobre esse assunto, diz que sou boa parideira e que ele é homem de saúde. Vamos ao médico esta semana, estou ansiosa e aflita. Deus, o Senhor que sabe de todas as coisas, deve saber que eu sou uma mulher crente e temente, olha por nós Santo dos Santos, que somos Maria e José procurando um canto para dar a luz, perdidos numa cidade de seis mil habitantes no interior da zona da mata de Minas Gerais, onde Judas perdeu as botas e a vergonha na cara. Provê Querido um ninho seco de palha fresca para que este abençoado possa chegar na Sua santa presença, e afasta de mim essas mangas verdes que nem posso mais ver de entojo.

Maris..

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Oi, Sou a Rosinha compartilhando a vida cheia de graça com você. Do cotidiano onde, nada me escapa. nenhum detalhe se perde através das vidraças de minha janela, e pode acreditar, tudo narrado aqui, foi vivido na íntegra, eu apenas, acrescento a cada conto uma pitada deste bom humor sagaz e imperativo que Deus me deu!(risos)

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Para Marisa Rosa Sou geminiana, sim! Sou geminiana sou, simples e complicada vaidosa e relaxada... uma mulher cheia de amor. Inconstante é-me a minha própria carne e se a timidez me persegue é ela minha indócil estrada que chega a tirar-me o fôlego. Meu choro é cheio como o mar e jorra livre como o vento e não esconde o que eu sinto quando minha face vive e expõe as faces dos meus sentimentos. Sou a chuva que busca a solidão no nostálgico das brumas a viciar-me na poesia que traço quando minha alma, o coração abraça e no peito uma mulher declama. Paulino Vergetti em 2 de Setembro de 2008 http://www.luso-poemas.net/modules/yogurt/index.php?uid=5737